Pela primeira vez na história deste blog, postarei um artigo que não foi escrito por mim. Mas meu blogueiro predileto, André Barcinski (Blog Uma Confraria de Tolos) assina esta crítica cinematográfica extraordinariamente concisa que diz tudo que não tive a capacidade de dizer desta obra prima do cinema. Eis suas palavras:
"A grande arte tem a capacidade de levantar o espírito e nos inspirar ao sublime.
O cineasta Akira Kurosawa, por exemplo, já declarou que costumava ouvir sonatas de Beethoven de manhã, para clarear os pensamentos e facilitar a inspiração.
Selecionei aqui um pequeno trecho de uma obra que, há alguns anos, vem inspirando um sem-número de pessoas, artistas ou não.
São apenas três minutos de filme. Uma jóia fílmica com a rara qualidade de sintetizar toda a complexidade social, cultural e antropológica de nosso país.
Acompanhe:
0:06 – a contraposição de três imagens – o carro de luxo último modelo, o trabalhador com a enxada, e o avião ao fundo – são um comentário irônico sobre os extremos de miséria e riqueza do Brasil, um ícone de nossa “Belíndia”.
0:12 – A imagem de jovens praticando a desobediência civil, ao sujar a estrada com terra, é uma poderosa metáfora sobre o poder do proletariado e a viabilidade do confronto como instrumento de transformação social.
0:27 – Um monólogo poderoso sobre a importância da educação como ferramenta transformadora de nossa sociedade.
0:32 – Ao antecipar o som da enxada batendo na estrada, claramente sem sintonia com a imagem, o filme nos faz refletir sobre o surrealismo da situação, em que crianças são submetidas a trabalhos forçados. Um artifício claramente inspirado nos experimentos do Teatro do Absurdo, mas raramente utilizado no cinema com tanta liberdade e força dramática.
0:35 – Um momento de intenso drama surrealista-religioso: a protagonista, tal qual Sâo Francisco de Assis, conversa com os pássaros, conclamando-os à revolução pacífica.