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Foto: Nicoli Catarine |
Não sou idoso. Nem aleijado. Tampouco sou gestante. Mas tenho uma criança no meu colo. Não, não quero o teu lugar, não sou tamanho fominha. Mas você bem que poderia segurá-la pra mim, por favor, afinal, que é que tem demais levar meu violino.
“Músico só se fode” é uma das coisas que mais ouvi e concordo na vida. Mas provavelmente, o lugar em que o músico mais se fode é no ônibus. Seja o instrumento que for, desde um simples case (mala, caixa, estojo de instrumento) de trompete até uma capa de um enorme contrabaixo.
O primeiro mal momento é na entrada do ônibus, que dependendo do tamanho do instrumento (violoncelo, contrabaixo, trombone) tem que suplicar ao motorista para abrir a porta de trás para entrar e, para outros casos, tem que segurar firmemente uma mão no case, outra no balaústre do ônibus que dá a arrancada.
O pior momento, talvez seja na catraca, que você é obrigado a fazer um malabarismo bizarro na arte de passar o bilhete no contador, levantar o case, girar a roleta e garantir o equilíbrio. Para os que entraram por trás do ônibus, passar o bilhete e rodar a catraca, antes que o cobrador se desespere e comece a expulsar o pobre músico.
Passado o pior, creio que qualquer músico gostaria de um pouco de paz, sentar-se feliz com seu instrumento junto ao corpo. Mas isso é difícil numa megacidade como São Paulo. Nos resta apenas um pingo de generosidade de alguém sentado para segurar nosso instrumento e nos permitir viajar com um mínimo de “conforto” a mais. Mas não, ignoram nossos instrumentos, ignoram nosso esforço e sofrimento e não se oferecem a carregar nossos instrumentos. Os mesmos gentis que se oferecem a levar uma bolsa de uma mulher bonita que, mesmo não estando pesada, se oferece a levar para marcar pontos, rejeitam os pobres músicos e musicistas.
Cito o ônibus apenas porque é mais comum, mas no trem e metrô é o mesmo sofrimento. Principalmente na entrada do vagão, que ou te atropelam, ou levam teu case no empurra-empurra. É muito raro um dom de gentileza ou educação para nos ajudar, tanto é que quando recebo uma boa atitude, agradeço com mais de cinco obrigados a pessoa generosa.
Peço humildemente a todos vocês que estão lendo... por favor, se verem alguém com instrumento nas costas ou no punho, faça uma caridade. A sociedade musical e artística agradece.
É nessas situações que reforço meu ser: ainda bem que eu toco violino e não contra baixo.
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