Este
não é um post eleitoral. Trata-se diretamente sobre a obra de um pré-candidato
à prefeitura de São Paulo, mas não tem cunho eleitoral. O fato de se tratar de
um político pode até ser curioso, chama bastante a atenção. Ora, na minha época
políticos roubavam, não plagiavam. Plágio era coisa de músicos decadentes, os
políticos tinham mais status do que isso.
Antoine
de Saint-Exupéry era aviador, morreu cedo, aos 44 anos e escreveu menos de
vinte livros em sua vida. Um deles viria a se tornar uma das maiores obras
infantis de todos os tempos, supostamente lida por todas as pessoas deste
mundo, O Pequeno Príncipe, um livro
que encanta até hoje gerações de crianças e adultos.
Gabriel
Chalita, 43 anos é advogado, jurista, filósofo, educador e deputado federal. A
falta de humildade no curriculum vitae
reflete em sua obra. Pontuando na ante capa de seus livros “já escreveu mais de
50 obras entre poemas, teses, ensaios e romances” nos demonstra o poder de sua
escrita. Eu fiz o erro de ler uma dessas obras.
Lançado
no fim de 2011 “O Pequeno Filósofo” é um livro que deixa qualquer um
boquiaberto. Não pelo conteúdo da obra em si, mas pelo cinismo do seu autor ao
plagiar tão descaradamente “O Pequeno Príncipe”. O livro do Chalita não é
inspirado, nem baseado, nem adaptado nem argumentado na obra de Saint-Exupéry.
É copiado. O título, o tema, o formato, a escrita, as ilustrações, nada é
original. No texto pelo menos, vemos Chalita, não vemos Exupéry. Frases dignas
de compartilhamentos de Facebook dão lugar às citações eternizadas na obra
francesa. Somos obrigados a ler pérolas como “Das margens não se é possível conhecer o rio, ainda mais a noite”
ou “É impressionante como nos
impressionamos com o que não deveríamos nos impressionar”. Além do mais, o
filósofo não tem nada da doçura, do carisma e da inocência do príncipe. O
filósofo não diz nada no livro inteiro, apenas pergunta. Perguntas tão simples
que acendem o coração do homem adulto, que faz esse se parecer um grande
bobalhão. O homem adulto é o narrador. O narrador seria Chalita? O príncipe,
diferente tem algo especial, algo que faz que, depois de mais de 70 anos do seu
lançamento, deixa nossos olhos marejados a cada releitura. As duas obras trazem
suas mensagens, mas a do príncipe fica e a do filósofo as vai junto com o trem
onde ele está.
Quando
li “O Pequeno Filósofo” conhecia profundamente “O Pequeno Príncipe” e fiquei
intrigado, procurando em alguma nota na contracapa algum copyright de
Saint-Exupéry. Não contente, comecei a buscar na internet se existia alguma
referência. Além de descobrir que em momento algum Chalita citou a obra do
Saint-Exupéry como inspiração e que na apresentação de seu trabalho, sem ficar
nenhum pouco vermelho dizia que a obra era original a partir do que ele via na
vida, descobri que ele fora acusado de um plágio no mínimo curioso. “Auto-plágio”
seria o nome. No que consta em sua biografia, Chalita é doutor em Direito e bacharel
em Filosofia. Pelas fontes que li, ele teria conseguido seu segundo diploma com
a tese apresentada na primeira formação. Não sei se é verdade, mas se ao se
auto copiar e copiar um dos livros mais famosos do mundo for seu método de
escrita, isso explicaria seus mais de 50 títulos que se apresentam na contra
capa d’O Pequeno Filósofo.
Diz-se
que mais de 200 mil exemplares de “O Pequeno Filósofo” foram vendidas desde seu
lançamento. Na rede social de leitores “Skoob” consta que 164 pessoas leram (eu
estou incluso). Das 97 avaliações feitas, 37% das pessoas dizem que o livro é
muito bom. 4% dos votos (inclusive o meu) diz que o livro é ruim.
Chalita
tem uma bela oratória. Seu discurso transborda demagogia, logo convence demais
aqueles que não foram vacinados contra ela. Quem vê sua entrevista de
lançamento no programa Sempre Um Papo (disponível no YouTube) ficará encantado
com seu jeito de falar e assim será quando o horário eleitoral começar. Na
pesquisa de hoje (18/06), ele tem 6% dos votos, mas esse número vai subir.
Afinal, não esqueçamos que ele foi o vereador mais votado em 2008 e o terceiro
deputado federal mais votado em 2010. Se hoje Saint-Exupéry estivesse vivo,
certamente abriria uma CPI para investigar a tão descarada semelhança entre sua
obra e a do nobre candidato.