18 de junho de 2012

O Pequeno "Charlitão"



Este não é um post eleitoral. Trata-se diretamente sobre a obra de um pré-candidato à prefeitura de São Paulo, mas não tem cunho eleitoral. O fato de se tratar de um político pode até ser curioso, chama bastante a atenção. Ora, na minha época políticos roubavam, não plagiavam. Plágio era coisa de músicos decadentes, os políticos tinham mais status do que isso.

Antoine de Saint-Exupéry era aviador, morreu cedo, aos 44 anos e escreveu menos de vinte livros em sua vida. Um deles viria a se tornar uma das maiores obras infantis de todos os tempos, supostamente lida por todas as pessoas deste mundo, O Pequeno Príncipe, um livro que encanta até hoje gerações de crianças e adultos.

Gabriel Chalita, 43 anos é advogado, jurista, filósofo, educador e deputado federal. A falta de humildade no curriculum vitae reflete em sua obra. Pontuando na ante capa de seus livros “já escreveu mais de 50 obras entre poemas, teses, ensaios e romances” nos demonstra o poder de sua escrita. Eu fiz o erro de ler uma dessas obras.

Lançado no fim de 2011 “O Pequeno Filósofo” é um livro que deixa qualquer um boquiaberto. Não pelo conteúdo da obra em si, mas pelo cinismo do seu autor ao plagiar tão descaradamente “O Pequeno Príncipe”. O livro do Chalita não é inspirado, nem baseado, nem adaptado nem argumentado na obra de Saint-Exupéry. É copiado. O título, o tema, o formato, a escrita, as ilustrações, nada é original. No texto pelo menos, vemos Chalita, não vemos Exupéry. Frases dignas de compartilhamentos de Facebook dão lugar às citações eternizadas na obra francesa. Somos obrigados a ler pérolas como “Das margens não se é possível conhecer o rio, ainda mais a noite” ou “É impressionante como nos impressionamos com o que não deveríamos nos impressionar”. Além do mais, o filósofo não tem nada da doçura, do carisma e da inocência do príncipe. O filósofo não diz nada no livro inteiro, apenas pergunta. Perguntas tão simples que acendem o coração do homem adulto, que faz esse se parecer um grande bobalhão. O homem adulto é o narrador. O narrador seria Chalita? O príncipe, diferente tem algo especial, algo que faz que, depois de mais de 70 anos do seu lançamento, deixa nossos olhos marejados a cada releitura. As duas obras trazem suas mensagens, mas a do príncipe fica e a do filósofo as vai junto com o trem onde ele está.

Quando li “O Pequeno Filósofo” conhecia profundamente “O Pequeno Príncipe” e fiquei intrigado, procurando em alguma nota na contracapa algum copyright de Saint-Exupéry. Não contente, comecei a buscar na internet se existia alguma referência. Além de descobrir que em momento algum Chalita citou a obra do Saint-Exupéry como inspiração e que na apresentação de seu trabalho, sem ficar nenhum pouco vermelho dizia que a obra era original a partir do que ele via na vida, descobri que ele fora acusado de um plágio no mínimo curioso. “Auto-plágio” seria o nome. No que consta em sua biografia, Chalita é doutor em Direito e bacharel em Filosofia. Pelas fontes que li, ele teria conseguido seu segundo diploma com a tese apresentada na primeira formação. Não sei se é verdade, mas se ao se auto copiar e copiar um dos livros mais famosos do mundo for seu método de escrita, isso explicaria seus mais de 50 títulos que se apresentam na contra capa d’O Pequeno Filósofo.

Diz-se que mais de 200 mil exemplares de “O Pequeno Filósofo” foram vendidas desde seu lançamento. Na rede social de leitores “Skoob” consta que 164 pessoas leram (eu estou incluso). Das 97 avaliações feitas, 37% das pessoas dizem que o livro é muito bom. 4% dos votos (inclusive o meu) diz que o livro é ruim.

Chalita tem uma bela oratória. Seu discurso transborda demagogia, logo convence demais aqueles que não foram vacinados contra ela. Quem vê sua entrevista de lançamento no programa Sempre Um Papo (disponível no YouTube) ficará encantado com seu jeito de falar e assim será quando o horário eleitoral começar. Na pesquisa de hoje (18/06), ele tem 6% dos votos, mas esse número vai subir. Afinal, não esqueçamos que ele foi o vereador mais votado em 2008 e o terceiro deputado federal mais votado em 2010. Se hoje Saint-Exupéry estivesse vivo, certamente abriria uma CPI para investigar a tão descarada semelhança entre sua obra e a do nobre candidato.

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