PT X PSDB é coisa do passado. A
briga mais quente dos últimos dias é entre quem gostou de Interestelar
contra quem não gostou do filme. Faço parte do grupo que não
gostou. Christopher Nolan se atentou muito às teorias físicas e
pouco ao filme em si, criando uma história patética com diálogos
ridículos que chegam a ser muito engraçados. Se existisse um Oscar
de Física Quântica, o filme seria premiado indubitavelmente, mas
enquanto filme, provavelmente logo será esquecido.
Não gostar de um filme apreciado
é uma cilada. Felizmente, cinema é uma das coisas mais legais de
serem discutidas. E como vivemos nessa maravilhosa ditadura petista
comunista onde se tem liberdade para odiar alguns clássicos, faço
esse post para malhar alguns dos filmes mais apreciados de todos os
tempos. Assim como eu duvide da existência de algum ser vivo que não
goste de “Ladrão de Bicicletas”, ou de “Três Homens em
Conflito”, minhas opiniões podem causar estranheza/antipatia a
quem aprecia os filmes abaixo. Desde que não peçam uma intervenção
militar, está tudo ok. Faça também uma lista de vacas sagradas
para jantar e estamos bem.
Persona – Quando Duas
Mulheres Pecam (Ingmar Bergman, 1966)
Assisti apenas dois filmes do
Bergman e desde então não tomei coragem para assistir a nenhum
outro. Se em Morangos Silvestres as reflexões existenciais ainda
davam uma leve empatia, neste “poema visual”, as reflexões
beiram a tarde de domingo de agosto. Essa groselha é tão morosa,
preenchida com momentos surrealistas para fazer qualquer adorador da
subjetividade transcender (seja lá o que for isso) que fica difícil
querer assistir outro filme do sueco. Para mim, Persona funcionou
apenas como um exercício de paciência.
Os Intocáveis (Brian de Palma, 1987)
De Palma é um dos meus diretores prediletos. Tendo feito tantos
filmes absurdamente fabulosos, não entendo porque um filme menor,
como Os Intocáveis é tido como uma de suas obras-primas, enquanto
que O Pagamento Final, por exemplo é quase esquecido. Ainda que não
seja um filme ruim, não está a altura de outros do De Palma
(Scarface, Vestida Para Matar, Missão Impossível). Por mim Os
Intocáveis é mais lembrado pela cena que homenageia O Encouraçado
Potemkin do que por si só.
Asas do Desejo (Wim Wenders, 1988)
Tal qual Bergman, Wenders cria um
filme filosófico existencial detestável, que eu poderia escrever
dezenas de palavras sobre, mas a sonolência que aflora apenas ao me
lembrar desse filme não possibilita qualqzzZzzzzZzzz.
Os Bons Companheiros (Martin
Scorsese, 1990)
Scorsese não é unanimidade.
Pelo menos para mim, sempre falta algo em seus filmes. Mesmo nas
obras que eu mais gosto (Taxi Driver, A Última Tentação de Cristo,
O Aviador) falta alguma coisa. Em outras (Caminhos Perigosos, Touro
Indomável, Cabo do Medo) falta muita coisa e não entram no meu
gosto de jeito nenhum. E Bons Companheiros é o maior exemplo disso:
um filme que falta um quê de não sei o que (assinatura? Não gosto
do Scorsese por ele ser o Scorsese? Ou esperava um filme inesquecível
de um filme meramente esquecível?). Assisti Bons Comapnheiros
tardiamente, este ano ainda, e não vi em momento algum na película
que me marcasse; é apenas mais um filme, esquecível e estranhamente
superestimado. O diretor, que conta com tantos filmes marcantes na
história do cinema, possui, para mim, apenas uma obra-prima completa
em sua trajetória: seu último O Lobo de Wall Street.
A Lista de Schindler (Steven
Spielberg, 1994)
Como alguém que escreve e dirige
as cenas finais desse filme – “Com o valor deste carro eu poderia
comprar 10 pessoas, com este anel 2, com este buton 1 pessoa... Eu
poderia ter salvo mais, muito mais!" – pode ser levado mais a
sério do que o Manoel Carlos?
Tropa de Elite (José Padilha,
2007)
Difícil crer que as falas desse
filme foram escritas para algum outro propósito além de se tornarem
meme – coisa que nem era nomeada assim em 2007. Atuações
vergonhosas e diálogos cretinos que resultaram em um tiro pela
culatra na premissa do filme, como foi bem explicitado nesse artigo
do ano passado:
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/matamos-amarildo-1601.html.
Estranhamente, a parte 2 é espetacular, um dos melhores filmes
comerciais brasileiros dos últimos anos.
Sr. Ninguém (Jaco Van Domael,
2009)
Filme mais pretensioso de todos
os tempos? Tudo nesse filme me causa antipatia. Parece-me que ele foi
pensado, segundo por segundo em existir para ser amado pelos
expectadores. Tudo é pasteurizado, tudo é fake. Suas digressões
existenciais deixam Bergman e Wenders no chinelo no quesito nada faz
sentido, mas tudo parece genial. Sua estética, enjoativa. Não é
uma questão de perfeccionismo, é questão de pretensiosismo mesmo.
Bastardos Inglórios (Quentin
Tarantino, 2009)
Disparado o pior filme de Quentin
Tarantino – ou melhor, um dos seus únicos deslizes. Em cada
segundo desta película é possível sentir o ego do Tarantino
atravessando a tela e tocando-lhe a pele. Sua autoindulgência ao
tentar vender um filme tão pretensioso ultrapassa os limites da
irritabilidade. E curiosamente, conseguiu vender para alguns fãs.
Chega a ser incrível como esse filme absurdamente grande e enfadonho
é tão aplaudido. Seus diálogos extrapolam a paciência e a
tentativa de criar tensão acaba tendo sucesso apenas em criar tédio.
E se o final, o que sustenta o argumento de quem defende o filme –
“é o final perfeito! Todos queríamos que Hitler tivesse morrido
assim” – os meios aos quais a história foi contada não o
justificam. Felizmente, em Django Tarantino voltou a ser legal.
Elena (Petra Costa, 2013)
O propósito era bonitinho: um
filme tributo da irmã mais nova, Petra para sua suicida irmã mais
velha, Elena, heroína de sua infância. Mas Elena é o modelo mais
abominável de criatura burguesa pós moderna: nascida no luxo, não
se encontra na vida, tenta se dedicar às artes, exila-se nos Estados
Unidos, mas é sugada por uma depressão que certamente não teria se
tivesse sofrido de verdade na vida e, de modo enormemente egoísta se
mata, deixando a família, principalmente sua irmã sem chão. A
antipatia que se pega dessa personagem é tanta que estende-se ao
filme e logo a proposta fica incabível e o documentário intragável.