19 de novembro de 2014

Churrasco de vacas sagradas


PT X PSDB é coisa do passado. A briga mais quente dos últimos dias é entre quem gostou de Interestelar contra quem não gostou do filme. Faço parte do grupo que não gostou. Christopher Nolan se atentou muito às teorias físicas e pouco ao filme em si, criando uma história patética com diálogos ridículos que chegam a ser muito engraçados. Se existisse um Oscar de Física Quântica, o filme seria premiado indubitavelmente, mas enquanto filme, provavelmente logo será esquecido.
Não gostar de um filme apreciado é uma cilada. Felizmente, cinema é uma das coisas mais legais de serem discutidas. E como vivemos nessa maravilhosa ditadura petista comunista onde se tem liberdade para odiar alguns clássicos, faço esse post para malhar alguns dos filmes mais apreciados de todos os tempos. Assim como eu duvide da existência de algum ser vivo que não goste de “Ladrão de Bicicletas”, ou de “Três Homens em Conflito”, minhas opiniões podem causar estranheza/antipatia a quem aprecia os filmes abaixo. Desde que não peçam uma intervenção militar, está tudo ok. Faça também uma lista de vacas sagradas para jantar e estamos bem.

Persona – Quando Duas Mulheres Pecam (Ingmar Bergman, 1966)
Assisti apenas dois filmes do Bergman e desde então não tomei coragem para assistir a nenhum outro. Se em Morangos Silvestres as reflexões existenciais ainda davam uma leve empatia, neste “poema visual”, as reflexões beiram a tarde de domingo de agosto. Essa groselha é tão morosa, preenchida com momentos surrealistas para fazer qualquer adorador da subjetividade transcender (seja lá o que for isso) que fica difícil querer assistir outro filme do sueco. Para mim, Persona funcionou apenas como um exercício de paciência.
Os Intocáveis (Brian de Palma, 1987)
De Palma é um dos meus diretores prediletos. Tendo feito tantos filmes absurdamente fabulosos, não entendo porque um filme menor, como Os Intocáveis é tido como uma de suas obras-primas, enquanto que O Pagamento Final, por exemplo é quase esquecido. Ainda que não seja um filme ruim, não está a altura de outros do De Palma (Scarface, Vestida Para Matar, Missão Impossível). Por mim Os Intocáveis é mais lembrado pela cena que homenageia O Encouraçado Potemkin do que por si só.
Asas do Desejo (Wim Wenders, 1988)
Tal qual Bergman, Wenders cria um filme filosófico existencial detestável, que eu poderia escrever dezenas de palavras sobre, mas a sonolência que aflora apenas ao me lembrar desse filme não possibilita qualqzzZzzzzZzzz.
Os Bons Companheiros (Martin Scorsese, 1990)
Scorsese não é unanimidade. Pelo menos para mim, sempre falta algo em seus filmes. Mesmo nas obras que eu mais gosto (Taxi Driver, A Última Tentação de Cristo, O Aviador) falta alguma coisa. Em outras (Caminhos Perigosos, Touro Indomável, Cabo do Medo) falta muita coisa e não entram no meu gosto de jeito nenhum. E Bons Companheiros é o maior exemplo disso: um filme que falta um quê de não sei o que (assinatura? Não gosto do Scorsese por ele ser o Scorsese? Ou esperava um filme inesquecível de um filme meramente esquecível?). Assisti Bons Comapnheiros tardiamente, este ano ainda, e não vi em momento algum na película que me marcasse; é apenas mais um filme, esquecível e estranhamente superestimado. O diretor, que conta com tantos filmes marcantes na história do cinema, possui, para mim, apenas uma obra-prima completa em sua trajetória: seu último O Lobo de Wall Street.
A Lista de Schindler (Steven Spielberg, 1994)
Como alguém que escreve e dirige as cenas finais desse filme – “Com o valor deste carro eu poderia comprar 10 pessoas, com este anel 2, com este buton 1 pessoa... Eu poderia ter salvo mais, muito mais!" – pode ser levado mais a sério do que o Manoel Carlos?
Tropa de Elite (José Padilha, 2007)
Difícil crer que as falas desse filme foram escritas para algum outro propósito além de se tornarem meme – coisa que nem era nomeada assim em 2007. Atuações vergonhosas e diálogos cretinos que resultaram em um tiro pela culatra na premissa do filme, como foi bem explicitado nesse artigo do ano passado: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/matamos-amarildo-1601.html. Estranhamente, a parte 2 é espetacular, um dos melhores filmes comerciais brasileiros dos últimos anos.
Sr. Ninguém (Jaco Van Domael, 2009)
Filme mais pretensioso de todos os tempos? Tudo nesse filme me causa antipatia. Parece-me que ele foi pensado, segundo por segundo em existir para ser amado pelos expectadores. Tudo é pasteurizado, tudo é fake. Suas digressões existenciais deixam Bergman e Wenders no chinelo no quesito nada faz sentido, mas tudo parece genial. Sua estética, enjoativa. Não é uma questão de perfeccionismo, é questão de pretensiosismo mesmo.
Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino, 2009)
Disparado o pior filme de Quentin Tarantino – ou melhor, um dos seus únicos deslizes. Em cada segundo desta película é possível sentir o ego do Tarantino atravessando a tela e tocando-lhe a pele. Sua autoindulgência ao tentar vender um filme tão pretensioso ultrapassa os limites da irritabilidade. E curiosamente, conseguiu vender para alguns fãs. Chega a ser incrível como esse filme absurdamente grande e enfadonho é tão aplaudido. Seus diálogos extrapolam a paciência e a tentativa de criar tensão acaba tendo sucesso apenas em criar tédio. E se o final, o que sustenta o argumento de quem defende o filme – “é o final perfeito! Todos queríamos que Hitler tivesse morrido assim” – os meios aos quais a história foi contada não o justificam. Felizmente, em Django Tarantino voltou a ser legal.
Elena (Petra Costa, 2013)

O propósito era bonitinho: um filme tributo da irmã mais nova, Petra para sua suicida irmã mais velha, Elena, heroína de sua infância. Mas Elena é o modelo mais abominável de criatura burguesa pós moderna: nascida no luxo, não se encontra na vida, tenta se dedicar às artes, exila-se nos Estados Unidos, mas é sugada por uma depressão que certamente não teria se tivesse sofrido de verdade na vida e, de modo enormemente egoísta se mata, deixando a família, principalmente sua irmã sem chão. A antipatia que se pega dessa personagem é tanta que estende-se ao filme e logo a proposta fica incabível e o documentário intragável.

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