Entre 28 de janeiro e 2 de fevereiro, São Paulo é a capital da futilidade e da luxúria. Está no ar o maior evento de moda do país, o São Paulo Fashion Week, ou o lugar onde anorexas usam roupas costuradas por algum pilantra, e cuja roupa vale mais do que minha casa mobiliada.
O que mais eu gosto de ver nessa bagaça é a atenção que a mídia dá para uma coisa tão inútil, como é gasto dinheiro em uma coisa tão breve e ridícula, como destroem a Bienal que bi anualmente sedia tal espetáculo que é a Bienal de Arte e a Bienal de Arquitetura, para um evento tão indecente como a SPFW.
Mulheres magrelas, roupas que nunca uma pessoa sensata usaria, um hino de amor a fama, e um gasto exorbitante de dinheiro. Dinheiro do aluguel da Bienal, dinheiro da confecção dessas roupas, dinheiro do cachê dessas mulheres, dinheiro que muitas pessoas precisariam para recompor suas casas que a chuva levou.
Agora, lembro-me que terminando essa semana medíocre em São Paulo, os grandes estilistas e chefões da moda, assim como a SPTuris já vão estar pensando na próxima estação. Assim, do mesmo jeito que quando acaba o carnaval, ou um campeonato de futebol as autoridades já vão estar de olho no próximo ano.Minha pergunta primordial é: por que, ao invés de pensar nessas inutilidades públicas, nossas autoridades pensam nas catástrofes que vão vir ano que vem?
Porque, se você for ver, é bem capaz de estar tudo programado para o desfile da Armani com a Gisele Bündchen, até 2013, mas um relatório sobre as áreas que vão ser afetadas pelos enchentes nunca ficam prontas.
A High Society orgulha-se de passear com suas Louis Vitton demonstrando uma bolsa como outra qualquer, apenas diferenciada por uma etiqueta, vale todo o quarteirão de uma “área de luxo” da favela, onde não tem enchente. Quando que esta pessoa vai se importar com a situação que pessoas que perdem tudo pelas águas e pela incompetência governamental.
Isto me remete a lembrança de uma das piores reportagens que eu já vi. Imagine, por exemplo, na tragédia da região serrana do Rio de Janeiro, com mais de 700 mortos, quantos órfãos existam por lá. Agora, esta mulher, que tem dinheiro suficiente para usar Louis Vitton, se comoveu com um cachorro! Adotou um animal, que acostumado a viver livre, deu um pé na bunda da nova dona rica e voltou pra onde queria estar, em sua verdadeira casa. E o nível de humanidade desta senhora? Por que ela preferiu um cão à uma criança pobre? Veja esta reportagem impagável do Jornal Hoje aqui.
Agora, no fim de janeiro, com as chuvas dando uma trégua a nós e a mídia, vamos voltar a nossa vida normal, tendo milhões gastos em eventos de moda, em campeonato de futebol, e aguardas as chuvas de 2012, com mais famílias chorando suas mortes, com mais desculpas esfarrapadas de políticos que durante o ano, por participar de SPFW, RJFW e outras NYFW por aí, arranjam a desculpa de que não deu tempo de fazer nada.
Outro lado, por que tudo isso? Por que a moda? Por que isso existe e é tão aclamado? É apenas roupa! Não me importo de maneira nenhuma com moda, pego a primeira blusa e calça do meu guarda roupa e saio. Simples assim. Por que tanta atenção com algo tão fútil? Existe até novela tratando sobre o assunto. Seja importante, obviamente para no futuro, as grandes marcas e grandes estilistas ainda estejam ganhando milhões, enquanto outras pessoas ainda estejam perdendo colchão, fogão e suas próprias vidas nas enchentes da temporada primavera verão. Só gostaria de ver que nota esse meu modelito jeans total acima ganharia na SPFW. Quanto mais afastado deste mundo, me sinto melhor, por isso que me visto tão mal e nem faço a barba.
Minha última pergunta é se o dinheiro arrecadado nesta exploração de moda vai ajudar de alguma maneira a quem precisa de verdade. Se não, fica aqui um apelo particular: dê dinheiro a caridade. Não a vaidade.
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