25 de abril de 2011

Real Tragédia



Alguém pensou no Haiti hoje? Alguém pensou em como estão vivendo os milhões de famintos de um país falido que sobreviveu a um terremoto ano passado? Alguém pensou nos que estão morrendo no oriente médio vítimas de seus cruéis ditadores? Alguém pensou na Líbia? Alguém pensou em Fukushima na semana que o acidente de Chernobyl completou 25 anos? Alguém pensou na bomba atômica? Suponho que não. Suponho que todos estão pensando unitariamente em duas pessoas: William de Gales e Kate Middleton.

Nos primeiros posts deste blog, critiquei furtivamente a SPFW por sua extravagância em uma questão tão medíocre que é a moda. Multiplique minhas críticas por 1000 e terá minha opinião sobre a monarquia inglesa. Ora se a burguesia fede, a monarquia já está a muito tempo em estado de podridão absoluta.

Minhas condolências aos noivinhos que vão custar mais de 5 milhões de libras (aproximadamente R$ 13 milhões) para o bolso dos britânicos que não foram convidados. Minhas homenagens a um país que não saiu de um ridículo estado monarquia parlamentarista em que os impostos arrecadados sustentam a minoria de menos de dez pessoas que participam da família real.
Batam palmas à rainha Elisabeth que come seu pernil real ao melhor molho francês com o dinheiro do pobre proletário que tem direito apenas a um chá às 5 da tarde.

E ainda vamos bater palmas para uma celebração da desigualdade? Precisamos ficar atentos no vestido que a plebéia (que de plebéia não tem nada) sortuda vai usar na Abadia de Westminster? Precisamos assistir a festa dos maiores milionários e poderosos dançando no Palácio de Buckingham? No meu caso não. Vou ficar com a TV desligada essa semana e não ler os jornais pra não precisar estar atento a mediocridade da situação. Por mim, qualquer regime absolutista deve ser abominado da face da terra. Principalmente da Inglaterra, que foi colonizadora da nação supostamente símbolo da liberdade.

Dessa família salvo apenas Harry, o moleque. Um típico playboysinho que se mete em enrascadas do tipo Paris Hilton, mas é impagável a vergonha alheia que comete para o resto de sua família que nunca sai do protocolo. Para um príncipe bem visto como filho caçula da mártir Diana beber, se drogar, andar fantasiado de nazista e combater no Afeganistão, essa é a prova que ainda tem alguém naquela família com culhões.

Como já disse, quero essa semana fugir ao máximo da cerimônia real – e trágica. Soube que no dia, emissoras de TV brasileira, como se nada tivesse mais importante para nos passar, vão transmitir o luxuoso casamento. É nessa hora que estarei com os aparelhos de televisão desligados e ouvindo “God Save the Queen” com Sex Pistols, aproveitando o máximo que a cultura britânica pode me trazer para o momento.

20 de abril de 2011

A Semana Santa de um dentista

Busto de Tiradentes na entrada da Cidade Tiradentes



LIBERTAS QUAE SERA TAMEN. Essa frase sempre foi uma das minhas prediletas do latim, junto com NON DVCOR, DVCO. As duas são inspirações políticas que se presenciaram muito na minha infância e que acabaram me influenciando na vida. A segunda, lema da cidade de São Paulo, “Não sou conduzido, conduzo” tem um som legal e é mais bonita que a primeira de fato, mas “Liberdade ainda que tardia” tem um contexto histórico mais presente na história brasileira.


Joaquim José da Silva Xavier não queria ser dono do mundo, como canta Stanilaw da Ponte Preta no Samba do Crioulo Doido. Queria apenas derrubar a monarquia baseado no lema LIBERTÉ, EGALITÉ FRATERNITÉ dos franceses. Nada além do imaginável para um dentista de classe média. Mas Joca acabou virando Tiradentes, consequentemente o maior herói da história do Brasil. Nível de exagero e apelação ao ufanismo usado pelo império a partir do martírio do dentista revolucionário podemos descontar, vamos usar Tiradentes apenas como um homem, com participação de enorme importância na história brasileira, como foi Zumbi dos Palmares, Antonio Calabar ou Carlos Marighela. Mas esse homem foi porque não, o maior de todos esses revolucionários. E se quisermos tratá-lo como herói, por que não o meu herói predileto?

Devido a Joaquim José da Silva Xavier, moro em um bairro chamado Cidade Tiradentes. É longe, problemático, quase uma lenda inexistente da cidade de São Paulo. Seus mais de 280 mil habitantes sofrem com, entre outros problemas, a deficiência de transporte público, falta de geração de empregos e entretenimento. Mas se diverte quando chega o dia 21 de abril. Dia da inconfidência Mineira. Dia em que em lá no ano de 1792 enforcaram o dentista revolucionário na praça de Vila Rica. No mesmo dia em que se comemora o dia do metalúrgico. E para aproveitar a mesma data tem o desfile de Tiradentes na avenida principal da Cidade Tiradentes, a Avenida dos Metalúrgicos.

Eu gosto do Joaquim José, do movimento inconfidente mineiro. E gosto mais ainda do meu bairro. Como dizia nossa própria frase que não está em latim, mas em português claro, “não mude da Cidade Tiradentes, ajude a mudá-la”. É por isso, que nessa semana santa, eu comemorarei com ênfase a data da morte e não ressurreição do nosso verdadeiro salvador: Tiradentes. E também quero mandar um abraço pra queridíssima doutora Maria Helena Minassi, que mesmo não sendo revolucionária, é uma ótima dentista e trata dos meus dentes desde que me conheço por gente. Recomendo a todos que moram em São Mateus (bairro próximo à Cidade Tiradentes) o seu consultório na Mateo Bei.

7 de abril de 2011

Massacre do Realengo: a cereja do bolo jornalístico



Neste 7 de abril é comemorado o  dia do jornalista. Mas o dia do jornalista de 2011 teve algo de especial para os próprios jornalistas: um atirador entra numa escola estadual do Rio de Janeiro, abre fogo contra os alunos e mata – oficialmente até agora – 11 crianças e fere mais treze. Pela primeira vez uma atrocidade bem comum americana acontece no Brasil. Pra deixar qualquer um jornalista trabalhando no dia que era pra ser seu.



Um fato que mexe tanto com os sentimentos dos brasileiros não poderia ser posto de lado. Ora, dá audiência. Muita audiência. E ao se deparar com a tragédia dos outros, os chefes do jornalismo vêem seu saco de ouro. E exploram disso o máximo possível. E inventam aí o sensacionalismo.

Dentre os recentes fatos que o sensacionalismo alcançou nível máximo de exploração de uma tragédia pessoal, cito os mais importantes que me lembro: morte da pequena Isabella Nardoni em 2008, sequestro da jovem Eloá também em 2008 e assassinato de Eliza Samúdio em 2010. Tem também o tipo de sensacionalismo justificável que serve para procurar melhoria principalmente vinda do Estado, como foi a queda do avião 3054 da TAM e do deslizamento das obras do metrô paulista em 2007 e as tragédias causadas pela chuva que se repetem todo ano.

Mas tanto um como outro, me irritam profundamente. O jornalismo é uma das áreas que eu mais admiro. Eu pessoalmente durante muitos anos pensei em seguir carreira. O fato de correr atrás da notícia em qualquer circunstância e informar a população me excita. Mas quando o jornalismo, além de noticiar, banaliza a ocorrência, destrói qualquer boa imagem da imprensa. Imprensa, que manipula a informação muitas vezes para favorecer apenas um lado da moeda, aproveita da situação dramática das famílias que sofrem com essas desgraças para ganhar audiência.

E novamente, o sensacionalismo volta à tona no Brasil. Devido esse infeliz que não tinha coisa melhor pra fazer do que matar crianças, ligo minha TV de manhã e vejo até a tarde o fato repetitivo, entrevistas e investigações que não levam a nada. Uma rede da TV aberta para toda sua programação para exibir a cobertura completa da situação no Realengo. Como foi o primeiro dia, eu até suportei. Mas daqui pra diante, quero me ver bem longe da TV, porque a palhaçada tende a piorar.

Pra essas e outras coisas existem filmes. Bem melhor e mais fácil assistir a ficção seja ela o que for do que a triste realidade em que vivemos. E pior ainda é ver na TV essa triste banalizada aumentada na lente do sensacionalismo. Afinal, mais esse caso no Rio de Janeiro fica como a cereja do bolo do dia do jornalista.