24 de novembro de 2011

O que fizeram com o TCM?


Há dois anos tenho TV por assinatura em minha casa. Sim, é boa. Mas tem muita coisa que poderia ser cortada. Dos 128 canais, menos de 28 são os que eu assisto. Mas só por esses canais valem a pena assinar o pacote.

Talvez, a maior frustração de ter uma TV a cabo, acima de ter canais de leilão de jóias e bois, e canais da vida de famílias americanas, é o fato de que a programação de filmes não é lá aquela coisa, alimentada pelo excesso de propagandas contidas nela. Confesso que dos 20 canais que mais assisto na TV, apenas dois tem programação específica de cinema. E infelizmente, com o andar da carruagem, vai ser apenas um canal que vou ser fiel em assistir filmes.

Um deles é o Canal Brasil, que mescla filmes de lançamento recente até as mais trashs pornochanchadas das décadas de 1970 e 1980. Um canal que dá incentivo a curtas metragens, entrevistas com ícones do cinema nacional e também bom espaço a musica brasileira. O melhor de tudo é ver filmes de 15 minutos até 2 horas e meia de duração sem intervalo comercial. Vale demais e com gosto.

O outro canal predileto é (era) o TCM Classic Entertainment. Este canal, especializado em filmes clássicos me fez muito feliz nesses dois anos de TV por assinatura. Ora, foi nele que descobri Hitchcock, Scorsese, Ford, Allen, Marlon Brando, Peter Sellers, Al Pacino entre tantos outros gênios de trás e da frente das câmeras.

Mas há algum tempo o TCM vem me decepcionando. Primeiro começaram as propagandas. Lá no começo, quando o descobri, era no estilo do Canal Brasil, filmes diretos sem interrupções cretinas dignas de FOX, Warner e TNT. Demorou alguns meses pra eles ajustarem direito esse esquema. No começo as propagandas me fizeram parar de assistir a programação, sendo em excesso e com muito tempo de duração. Propaganda estraga o tesão de qualquer filme... Mas depois eles conseguiram manter um número e duração de propagandas até aguentável, a típica parada para buscar mais café.

Mas eles estragaram mais. Em um determinado momento eles começaram exibir Os Bórgias, série da BBC desse ano. Tudo bem que é uma bela produção, mas não é típica para um canal que está acostumado em passar séries como Bonanza e Casal 20. E o pior de tudo, transmitiram a série no horário nobre! Não parou por aí. Agora eles estão passando X Files e Traffic, igualmente recentes que descaracterizam demais o canal.

Meu medo se consumou. Filmes da década de 90 e 2000 começaram a ser transmitidos também pelo TCM. Dia desses tive um desgosto profundo de ver que Ray, de 2004 e Mission: Impossible, de 1996 estavam na programação. Mas nada, nada foi tão terrificante como ligar às 22 horas dia desses para ver Beetlejuice e perceber que estava dublado. Como chegou a esse ponto de apresentar um filme dublado?

Espero que seja a minoria apresentada assim. Que só foi uma coincidência eu ter ligado no canal no dia que estava transmitindo um filme dublado. Desde aquele dia não parei para ver nenhum filme, tamanha desilusão. Não sei o que esperar do futuro do TCM, com tanta série, dublagem e propaganda na programação. Menos ainda com a nova lei que obriga os canais pagos apresentarem 3 horas e meia semanais de programação brasileira. Espero ver muito Glauber Rocha na tela. Enquanto isso assisto ao Canal Brasil, esperando passar um filme do Buñuel naquele que era meu canal favorito.

16 de novembro de 2011

A hora das crianças e dos loucos


O palco é um lugar único. O palco é sagrado, está acima do bem e do mal. É um lugar que, mesmo que você esteja submetido a uma direção ou a algum protocolo, em algum momento você é você mesmo. De um jeito que você não é em lugar nenhum. Minhas aventuras no mundo da música e do teatro me ensinaram a amar o palco. E como público presente em tantos espetáculos diferentes um dos outros, noto de cara quem domina o palco. Compor, atuar um papel categoricamente ou ser um deus da guitarra é fácil. Agora dominar o palco é para poucos. Você tem de ser ou uma criança hiperativa ou um louco; dos mais desvairados.

Mike Patton. Como passei tanto tempo sem conhecer esse cara? No momento que ele entra para encerrar a noite do SWU vestido de pai de santo cantando uma introdução em italiano e logo partindo para os gritos ensurdecedores e palavrões em português percebi quem era o dono do palco do Parque 500 de Paulínia.

Conheci as artes de Patton há pouco tempo. Descobri que ele é bem mais que vocalista do Faith no More. Fiz questão de pesquisar a fundo Mondo Cane e Fantomas, dois de seus inúmeros projetos paralelos. É um verdadeiro gênio. Mas no palco se mostrou acima de qualquer outro.

O show do Faith no More foi um dos mais estranhos que já vi. Palco de flores, a banda de umbanda, poeta pernambucano, coral de Heliópolis e “porra caralho” de sobra. Musicalmente perfeito. A voz do Patton é incrível, indo do bonito e afinado ao esganiçado e horripilante numa fração de segundo. Seus gritos assustavam e doíam o ouvido. Sua hiperatividade transformou o show no melhor internacional do ano até agora. Melhor show nacional? De outra criança louca.
Vi Zéu Britto em abril na Virada Cultural. Igual Patton, só que mais bizarro ainda, Zéu fez um espetáculo inesquecível misturando suas poesias, suas letras extraordinárias e sua voz, como a do patton, osciladora, numa forma de feio-bonito. Zéu pula, cativa. É outro gênio dos palcos que vale a pena assistir antes de morrer.

A Era dos Festivais fechou-se com chave de ouro num terreiro de umbanda da turma do Patton. As outras bandas ótimas como vi no Terra e no SWU não deixam a desejar e merecem cotação máxima na pontuação. Mas a loucura de um frontman como Mike Patton merece destaque, afinal no dominar o palco como ele, é bem mais complicado.

É Era de Festivais, bebê

Planeta Terra Festival: Indie Paradise

Starts With U: Da Lama do Caos


Após um ano no aguardo, chegou e já se foi. A Era dos Festivais de 2011 para mim foram os dias 5 e 14 de novembro. Planeta terra festival e SWU, dois megafestivais com suas semelhanças e diferenças que vou tentar resumidamente relatar os fatos principais dos dois.


ESTILOS


A principal diferença entre o Terra e o SWU foram os estilos da curtição. No Terra, como era um só dia em um parque de diversões com bandas indies era o melhor lugar para você botar uma roupinha bonitinha e desfilar. O tempo ajudou e os óculos escuros que combinavam com as vestimentas bem passadas e os celulares conectados à internet se sobressaíram, até mais do que a música em vários momentos. O SWU, em seu terceiro dia, debaixo de chuva durante 70% do tempo era o extremo oposto. Não se via Nike ou All Star limpo, afinal era impossível. O parque 500 Brasil virou um atoleiro, pra não dizer uma areia movediça. Terror aos indies bem vestidos, festa enorme aos grunges e metaleiros que se jovagam na lama e competiam quem estava mais emporcalhado.


ESTRUTURA

Meus parabéns a este quesito para os dois eventos. Considerando o fato de ser o 3º dia do SWU e ter ocorrido um dilúvio nos dois últimos, é justificável a lama imensa, afinal estamos em uma fazenda em Paulínia. Mas tanto o SWU quanto o Terra se mostraram eficazes em banheiros, praças de alimentação e serviços gerais. Algo que deixa os dois festivais a um nível rock’n roll quase zero é o excesso de publicidade. Para onde você virava você via um anúncio patrocinando aquilo. Tanto a Devassa (Terra) quanto a Heineken (SWU), tanto o Posto Ipiranga (SWU) quanto a Trident (Terra). Crítica também a falta de informação no SWU que não informava qual era o palco e em qual seria cada show. Quem não imprimiu ou decorou a lista, se confundiu. No Terra não houve esse problema.


HORÁRIOS


Outra coisa surpreendente nos festivais foi a (quase) pontualidade dos shows. Se atrasou algum que vi foi pouco, bem suportável, diferente do que foi no Rock in Rio no começo do mês. Os dois palcos funcionaram bem. Conferi mais no SWU que no Terra, pois no Terra fiquei parado vendo três shows em seguida no mesmo palco. O tempo de percurso entre o palco Consciência e o Energia no Parque Brasil 500 era o tempo exato do fim de um show e começo de outro. Do alto da arquibancada, onde fiquei nos últimos shows, dava para se perceber a migração da multidão entre um palco e outro. Quando todos estavam acomodados, sem cansaço, o show começava.


SUSTENTABILIDADE?


Ladainha da vez. Todos falam em sustentabilidade. Já cansou. O nocivo foi o SWU chamar Neil Young para palestrar sobre o assunto ao invés de cantar. Acho isso babaquice. Capaz de ano que vem temos a presença do Iggy Pop palestrando também. É como cantar  no show do Ringo ‘Give Peace a Change’ e depois sair desenfreado pelas ruas até bater o carro matando meia dúzia de pessoas. Ninguém nos dois shows estava ligando para sustentabilidade. A proposta pode até ser válida, mas não paguei 105 reais no ingresso para salvar o planeta. Apesar das tendas explicativas (que por sinal ninguém entrava), as pessoas jogavam suas tranqueiras no chão. Ou pior, na lama. Aos próximos festivais: menos frescura e mais música.


BANDAS

Finalmente o sentido desses megaeventos. Música. Transbordando de coisas boas e nem tão boas, vamos ao relato de show por show que assisti.

Playcenter, São Paulo, 5 de novembro de 2011


INTERPOL – É uma banda boa demais pra um festival. Outras sofreram o mesmo problema. Interpol é uma das bandas que para você gostar você tem que estar na vibe. E é difícil entrar na vibe de um dancing sinistro num lugar como o Playcenter com vinte mil pessoas. O som deve ter sido muito melhor curtido no Clash Club no dia seguinte, afinal é uma banda de estirpe.


BEADY EYE – O novo Oasis era para mim a principal atração da noite. Acho que só para mim. Os fãs graciosos dos Strokes simplesmente taparam seus ouvidinhos durante todo o show. Plenamente satisfatório foi o show. Como já imaginava, nenhuma surpresa. Mas Liam Gallagher e sua trupe trouxe um bom show para sua primeira (e anotem: última) apresentação no Brasil. Futuramente teremos Oasis de novo em nossos palcos.


SROKES - Indubitavelmente o show da noite. Surpreendente e emocionante. Interação total entre o público e a banda. Julian Casablancas vestido de Chorão e o baterista brasileiro Fabrizio Moretti saudado pelo público conterrâneo. Com um repertório recheado de clássicos dos quatro álbuns da banda, os Stokes provou ser a principal banda da década de 2000 e fez a alegria do público que veio só para vê-los.


Parque Brasil 500, Paulínia, 14 de novembro de 2011

DUFF MCKAGAN LOADED e BLACK REBEL MOTORCICLE CLUB – Bandas não tão conhecidas do público tocaram de dia e fizeram shows extraordinários. A primeira, do ex-Guns se mostrou simpática ao público, realmente confortável no palco. Com clássicos do Guns n’Roses cativou a todos. BLMC é uma banda que me surpreende. Com um vocalista que parece o Jack White o som deles é ótimo. Vale a pena conferir.


SONIC YOUTH – É pra chorar pensar que esta pode ter sido a última apresentação desta banda magnífica que pra mim foi a melhor da noite. SY é um dos maiores nomes da música alternativa mundial e a típica ame ou odeie. Show como o do Interpol, que o público que não amava ficou irritado enquanto o público que amava se deixava levar às distorções e microfonias. Por favor, não terminem Thurston e Kim, ainda quero vê-los mais uma ou várias vezes.


MEGADETH – Decididamente não gosto de metal.


STONE TEMPLE PILOTS – Um dos shows da noite. Visual comportado do porra louca Scott Weiland, megafone muito bem utilizado, clássicos depois de clássicos e público curtindo muito embaixo da chuva que neste momento começava a cair forte. Faltou o cover de Dancin’ Days. Ou uma brisa enorme que seria um cover de Dancin’ Queen.


ALICE IN CHAINS – A chuva em seu ápice naquele que para muitos foi o melhor show da noite. Pra onde eu me virava via além de gotas de chuva, lágrimas. A performance magistral de William Duvall no lugar do finado Layne Staley comoveu a todos. Um espetáculo de clássicos e ótima presença de palco. A esta hora já estava morto e na metade fui pra arquibancada me proteger do frio e tirar uma soneca.


FAITH NO MORE – A quilômetros do palco, acabado de cansaço e morrendo de hipotermia, a banda do (Mito) Mike Patton fez um show tão memorável para mim que terá direito a um post só seu. O show mais “porra caralho” que vi na vida.


FOGOS DE ARTIFÍCIO - Ao final desses três dias, nada como uma prévia do réveillon enfeitando o céu de Paulínia. Foi um espetáculo tão belo quanto toda a música lá tocada. A Era dos Festivais volta em abril com Lollapalooza.


P.s.: o SWU ficará marcado mais ainda na memória do meu irmão Murilo que no domingo, dia 13 levantou um cartaz pedindo para Courtney Love tocar 'Ask For It' e a irritou completamente. Depois, um fã ao seu lado levantou uma foto do Nirvana. os dois provocaram a eterna viúva do Kurt Cobain e quase acabaram com o show. Veja o vídeo: