O palco é um lugar único. O palco é sagrado, está acima do bem e do mal. É um lugar que, mesmo que você esteja submetido a uma direção ou a algum protocolo, em algum momento você é você mesmo. De um jeito que você não é em lugar nenhum. Minhas aventuras no mundo da música e do teatro me ensinaram a amar o palco. E como público presente em tantos espetáculos diferentes um dos outros, noto de cara quem domina o palco. Compor, atuar um papel categoricamente ou ser um deus da guitarra é fácil. Agora dominar o palco é para poucos. Você tem de ser ou uma criança hiperativa ou um louco; dos mais desvairados.
Mike Patton. Como passei tanto tempo sem conhecer esse cara? No momento que ele entra para encerrar a noite do SWU vestido de pai de santo cantando uma introdução em italiano e logo partindo para os gritos ensurdecedores e palavrões em português percebi quem era o dono do palco do Parque 500 de Paulínia.
Conheci as artes de Patton há pouco tempo. Descobri que ele é bem mais que vocalista do Faith no More. Fiz questão de pesquisar a fundo Mondo Cane e Fantomas, dois de seus inúmeros projetos paralelos. É um verdadeiro gênio. Mas no palco se mostrou acima de qualquer outro.
O show do Faith no More foi um dos mais estranhos que já vi. Palco de flores, a banda de umbanda, poeta pernambucano, coral de Heliópolis e “porra caralho” de sobra. Musicalmente perfeito. A voz do Patton é incrível, indo do bonito e afinado ao esganiçado e horripilante numa fração de segundo. Seus gritos assustavam e doíam o ouvido. Sua hiperatividade transformou o show no melhor internacional do ano até agora. Melhor show nacional? De outra criança louca.
Vi Zéu Britto em abril na Virada Cultural. Igual Patton, só que mais bizarro ainda, Zéu fez um espetáculo inesquecível misturando suas poesias, suas letras extraordinárias e sua voz, como a do patton, osciladora, numa forma de feio-bonito. Zéu pula, cativa. É outro gênio dos palcos que vale a pena assistir antes de morrer.
A Era dos Festivais fechou-se com chave de ouro num terreiro de umbanda da turma do Patton. As outras bandas ótimas como vi no Terra e no SWU não deixam a desejar e merecem cotação máxima na pontuação. Mas a loucura de um frontman como Mike Patton merece destaque, afinal no dominar o palco como ele, é bem mais complicado.
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