22 de dezembro de 2012

Os melhores de 2012



Para fechar o segundo ano deste blog que não é nem de longe um formador de opinião pública – e o objetivo não é pra ser mesmo -, vamos aos melhores do ano segundo minha opinião que pode ser extremamente controversa, mas é minha. Entre os álbuns não foi um ano de grandes lançamentos internacionais como 2011, mas teve uma safra nacional de excelente. No cinema nacional, acho que 2012 teve 300% mais filmes que 2011, mas confesso que além de Heleno vi mais um ou dois filmes. No cinema internacional, vi filmes excelentes que mereceriam um post só para eles (como Deus da Carnificina, Intocáveis ou Treze Anos), mas O Artista arrebentou qualquer outro concorrente. Nunca fui tanto ao teatro como este ano, mas Alberdeen na Galeria Olido foi uma das peças mais incríveis que já assisti. Em 2012 vi shows memoráveis, como Roger Waters, Noel Gallagher e Kraftwerk, mas nenhum deles foi tão inóspito quanto o voz, violão e quarteto de cordas do completamente bêbado Ian McCullock, ex Echo and the Bunnymen no Sesc Pinheiros. Memorável. Na televisão, o programa do Danilo Gentili alcançou o status que em 2011 não tinha conseguido e hoje desbanca qualquer outro programa de humor na TV aberta (eu não tenho MTV não sei o que está rolando por lá). Por mal em mal, segue a lista:



Melhor álbum internacional
Neil Young and Crazy Horse – Americana

Melhor música internacional
Jake Bugg – Lightning Bolt

Melhor clipe internacional
Bob Dylan - Duquesne Whistle

Melhor álbum nacional
O Terno – 66

Melhor música nacional / melhor clipe nacional
O Terno – 66
Link do clipe: http://www.youtube.com/watch?v=YF261dUvya0

Melhor show internacional
Ian Mcculloch – SESC Pinheiros

Melhor show nacional
Chico Buarque – HSBC Brasil

Melhor filme internacional
The Artist

Melhor filme nacional
Heleno

Melhor peça teatral
Alberdeen: um possível Kurt Cobain

Melhor exposição
Paris: Impressionismo e a Modernidade – CCBB

Melhor programa televisivo
Agora é Tarde


19 de dezembro de 2012

Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Maçã (Mas Tinha Medo de Perguntar)




O que você faria se, em um estande esquecido da Bienal do Livro você encontrasse um livro cuja capa tem uma foto de uma maçã e meia, sendo que o título, “MAÇÔ estivesse escrito em letras vermelhas garrafais custando apenas 2 reais? É claro que você compraria, não? Foi o que eu fiz.

Li 18 livros em 2012, pelo menos até agora, sem contar as centenas de textos para a faculdade e algumas raras HQs. Desde grandes porcarias como as Crônicas de Nárnia até clássicos dos clássicos como Madame Bovary, passando por diversos estilos e narrativas. Nenhum me marcou, nem acho que marcará tanto no resto da minha vida quanto MAÇÃ: Equilíbrio e Saúde, de Maureen Lemos Gregson.

Desde que comprei, já devo ter lido umas quinze vezes. Assim como toda a minha família, ora pois encontro esse livro cada hora em um criado mudo. Quando o descobri na Bienal, o subestimei. Ri da capa por uns dez minutos seguidos, então resolvi comprar. Quando cheguei no metrô eu o li, em uma só tacada, entre a estação Tietê e minha casa. Nos dias seguintes, mostrei com entusiasmo a todos que eu conhecia.

Muitas coisas que a nutricionista Maureen Gregson apresenta eu sequer imaginava. Foi um verdadeiro êxtase saber que, segundo algumas pesquisas, as primeiras macieiras surgiram há 25 mil anos em alguma região entre o Cáucaso e a China. A parte mais interessante da obra é a que trata das histórias e dos mitos da humanidade em que a maçã é a protagonista. Na mitologia cristã a maçã proibida expulsou Adão e Eva do Édem; na mitologia grega, a maçã foi a culpada da discórdia entre as deusas Hera, Afrodite e Atena; reza a lenda que a maçã que caiu da macieira na cabeça de Newton impulsionou-o a elaborar o conceito de gravitação universal; sem contar que foi a maçã a nomeia as empresas dos Beatles e de Steve Jobs.

O livro traz todos os dados sobre o cultivo de maçã no Brasil e no mundo, traça as propriedades nutricionais do fruto, faz uma apresentação sobre as inúmeras variedades da maçã pelo planeta, apresenta subprodutos da maçã, como a sidra e a geléia e ainda indica vários benefícios da maçã para a saúde. É incrível saber que, muito além de branquear os dentes e ajudar na digestão, comer uma maçã por dia pode prevenir o câncer digestivo!
  
O livro fecha com algumas ótimas receitas a base de maçã, como sanduíche de atum com maçã e torta de maçã com aveia e importantes informações sobre o vinagre de maçã, nunca antes tratadas em obra alguma.

Depois de ler essa obra prima por diversas vezes, minha visão sobre a maçã mudou completamente. Percebi o quanto essa fruta é influente na estrutura mundial por ser muitas vezes protagonista da história. Após a leitura, meu consumo de maçã triplicou. Antes, se eu recusava uma maçã preferindo uma pera  hoje já não acontece mais. Recomendo esse livro a todos. Então lembre-se, se você encontrá-lo a dois reais, não deixe de comprar. Vai no mínimo te surpreender e fazer você se viciar em maçãs.

18 de dezembro de 2012

Regenerando Kassab



A poucas semanas de seu esperado fim, a gestão de Gilberto Kassab já entra para a galeria das piores prefeituras que São Paulo já teve. Reduzi-la a menos de uma taxação de pífia é um exagero, e qualquer categorização que se assemelhe com a reportagem da Veja São Paulo deve ser tratada como uma piada de mau gosto. Não me cabe aqui citar os absurdos ao quais somos vítimas há seis anos, pois estes estão visíveis logo ao sair da rua. Quero aqui tratar de dois pontos curiosos da dinastia Kassab que o livram da titulação “pior prefeito que São Paulo já teve”, como alguns vêm dizendo. Longe de glorificar sua gestão, acabam apenas tirando-a do limbo completo.

A primeira delas é a cara da cidade. A cidade de São Paulo nos últimos anos ficou mais bonitinha. Fazer de terrenos baldios praças não é a prioridade de um plano de gestão quando se tem uma cidade violenta, sem qualidade na educação e na saúde. Mas uma área verde é sempre bem vinda. E para compensar a rua congestionada ao lado, a pracinha está lá, bem cuidada com alguns vigilantes e iluminação, uma quadra onde crianças jogam futebol e uns cantos mais escondidos para a alegria dos maconheiros. Terrenos antes inúteis foram bem aproveitados e enfeitam a cidade cinza. Além das praças, a gestão promoveu um milagre da multiplicação de parques (alguns sendo registrados onde no lugar existe uma favela). Perto da minha casa, no extremo leste foram inaugurados nos últimos dois anos dois parques excelentes, uma área de lazer que não existia até então na periferia, que antes servia para despejo de lixo e entulho.

Além disso, sempre fui a favor da lei Cidade Limpa, implantada em 2007 que, mesmo ainda não cabendo como uma prioridade de uma gestão competente retirou os outdoors, as placas e toda imundície visual que atrapalhava a cidade. Hoje é um verdadeiro choque quando você vai a um município da metrópole onde não existe essa lei, como Guarulhos ou Santo André e se depara com as placas indo a encontro a você ameaçadoramente querendo te carregar para dentro de um estabelecimento comercial. São Paulo está livre disso. Hoje você fica parado seis horas no trânsito, em compensação vê o horizonte, não um outdoor de alguma marca de presunto.

Mas a cidade limpa não é a cereja do bolo desta gestão. O que mais me agradou nesses seis anos foi a proliferação de programas da secretaria da cultura tornando São Paulo em um pólo cultural com vasta abrangência nunca antes tida no Brasil. Vale lembrar que seis das sete edições da Virada Cultural ocorreram nessa gestão. E se a primeira tinha 250 atrações e um público de aproximadamente 500 mil pessoas, a desse ano teve mais de 1500 atividades e um público de mais de 4,5 milhões.

A abertura de fábricas de cultura e bibliotecas nas periferias e a utilização desses espaços para eventos que antes ficavam restringidos ao centro foi um dos pontos altos da gestão. Graças a locais como o Centro Cultural da Juventude na Vila Nova Cachoeirinha serviram para aumentar o número de atrações que a revista mensal da prefeitura Em Cartaz oferece. A Galeria Olido no centro foi outro lugar que, se foi recuperado na gestão Marta Suplicy (2001-2005), nestes últimos seis anos foi vastamente utilizada como polo cultural.

A Praça das Artes, ao lado do Teatro Municipal para abrigar a Escola Municipal de Música e o Balé Municipal, finalmente vira realidade, com várias décadas de atraso. Falando em Teatro Municipal, a sua reforma foi um presente brilhante para seu centenário em 2010 e resta agora às autoridades (sonho distante?) baratear os ingressos para esse local ser aproveitado e freqüentado por todas as classes sociais que tem o direito de conhecer esse espaço público. E outra reforma bem vinda é a do Centro Cultural São Paulo (Vergueiro) que, com quase todas as atividades suspensas em 2012, apresenta no plano de obras a modernização de todas as suas salas e promete continuar a democratização cultural mantendo 90% das suas atrações gratuitas.

Mas o programa mais genial da prefeitura nos últimos anos que merece meus parabéns e muito obrigado, sem dúvida é o “CEU é Show”. O espaço iniciado na gestão da Marta, espalhado por toda periferia, foi por muito tempo esquecido como espaço cultural, se tornando apenas mais um espaço educacional. Em 2010, o lançamento do projeto em questão foi pequeno e quase imperceptível, se limitando a uma dúzia de eventos em algumas unidades dispersas. Em 2011, quando a Bachiana do maestro João Carlos Martins fez uma turnê por várias unidades da capital, o projeto começou a chamar atenção. Esse ano, gloriosamente, foi um verdadeiro espetáculo em si a expansão do CEU é Show, tanto em quantidade de apresentações quanto em qualidade.

Gente como Fernanda Montenegro, Glória Menezes, Antônio Abujamra, Tulipa Ruiz, Toquinho pisou em palcos distantes do centro da cidade para públicos que nunca frequentaram uma sala de teatro. Mais de 800 shows e espetáculos teatrais nos 45 CEUs de São Paulo, provavelmente um dos maiores projetos de inclusão cultural já visto.

Fui em vários espetáculos. Ver peças como Dueto Para Um com direção da Mika Lins ou o monólogo do Antônio Abujamra A Voz do Provocador sem precisar passar duas horas dentro de um ônibus foi uma experiência única. Algumas vezes, com a sala vazia e um sentimento de constrangimento, outras vezes com a sala cheia e na saída, a satisfação de ver uma igreja porta de garagem com um pastor berrando tão alto que doía o ouvido só de passar perto palavras num português errado vazia, com três pessoas no máximo, ao contrário do teatro. Quem diria que no Inácio Monteiro um monólogo sobre Simone de Beauvoir teria 50 vezes mais pessoas do que um pastor sensacionalista?

O público de uma peça num CEU na Cidade Tiradentes ou na Vila Brasilândia faz barulho, tira foto com flash, desrespeita. Mas não é a falta de respeito uma criação. É a falta de costume. Muitos do que assistiram Glória Menezes no palco perto de sua casa, nunca tiveram oportunidade de ir em uma peça de teatro, afinal não existe na periferia. Essa realidade deve ser mudada e está sendo mudada. Parte da iniciativa vem de grupos culturais não governamentais que fazem mil maravilhas na periferia, como companhias teatrais e centros culturais sem qualquer apoio ou patrocínio. Agora a outra parte deve vir das autoridades. O CEU é Show e a Virada Cultural devem continuar com a gestão Haddad. E um dia, esse público tão esquecido, será finalmente acostumado, e ir ao teatro, ou ir a um concerto não fará mais parte da exceção, mas sim do cotidiano. Muito já se fez, mas deve se fazer mais. Quem disse que não vamos levar nenhum bom exemplo de Gilberto Kassab?