![]() |
Foto: Passe Livre São Paulo |
- Sim, eu estava no ato do Passe Livre do dia 6 de junho;
- Não, eu não apedrejei estação alguma;
- Sim, apedrejaram estações, queimaram lixo e picharam prédios, bancas, etc.
- Não, não tinham centenas de pessoas no ato. Tinham milhares.
- Não, não foram as mais de cinco mil pessoas que apedrejaram estações, queimaram lixo e picharam prédios, bancas, etc.
- Sim, uma minoria usou do vandalismo; a maior parte dos manifestantes foi contra e, quando três – repito, apenas TRÊS! – pessoas derrubaram a guarita policial, o grupo cantou “vandalismo não!”
- Não sei, não sou o dono da verdade, quem sou eu pra dizer se é justificável ou não. Vide caso da Turquia: quem está mudando o país, sob sua perspectiva e sob a perspectiva da imprensa, são manifestantes ou vândalos? Lá o uso da violência é justificável? Aqui não é o caso de ser?
- Não, o protesto não foi só na Paulista; começou na Praça Ramos, andamos por três horas por inúmeras avenidas, como a 23 de Maio e a Nove de Julho. Durante todo o percurso a imprensa esteve ausente. Só depois, quando a manifestação foi abusivamente reprimida pela Tropa de Choque que a imprensa apareceu. Sendo que 80% da manifestação foi oculta pela imprensa, como irão passar a imagem do que realmente foi? Não vi na TV a fanfarra contagiante dos manifestantes, o espírito de união presente a todo o momento, a gentileza de quem ajudou os outros, a preocupação geral com cada manifestante na hora que cada bomba de gás jogada pela polícia explodia. Cinco mil pessoas preocupadas com o bem comum do transporte público se tornaram na TV 500 vândalos.
- Sim, a polícia esteve à nossa retaguarda em quase todo o percurso. A partir da saída do túnel Anhangabaú. Não nos deixaram seguir pela 23 de Maio. Obrigaram-nos ir pela Nove de Julho. Raciocinemos: na Avenida Nove de Julho tem um dos mais importantes corredores de ônibus de São Paulo, onde passam centenas de linhas. A 23 de Maio possui um dos maiores fluxos de veículos de São Paulo. Repare na lógica da Tropa de Choque: atrapalhe o corredor de ônibus, mas não atrapalhe o caminho de quem tem carro.
- Sim, nas outras avenidas foram jogadas bombas para dispersar-nos. Na 23 de Maio bem mais que na Nove de Julho. Mas nada comparado com o que ocorreu na Avenida Paulista. Ora, na Nove de Julho nosso protesto não resultou no fechamento de comércio, bancos e bares; ou seja, não resultou em prejuízo. Quando começamos a causar – indiretamente – prejuízo, a Tropa de Choque chegou com tudo. A ação policial, mais do que “manter a ordem” foi baseada na verdade, na ideia da preservação do lucro, na preservação funcionamento do coração econômico de São Paulo.
- Não, não vi a hora exata do apedrejamento. Ouvi. Arrisco-me dizer: se a Tropa de Choque não tivesse à nossa cola, reprimindo a manifestação com bombas e tiros, alguns manifestantes não teriam depredado as estações de metrô. Violência gera violência. E a violência foi sim provocada pela polícia. Quatro helicópteros, dezenas de viaturas e soldados. Quantos bandidos tinham nesta manifestação democrática para exercerem tal contingente? No âmago, a bagunça atribuída a todos os manifestantes foi culpa não do movimento, nem de alguns vândalos, mas sim da polícia.
- Sim, a polícia é uma péssima estrategista. Encurralou-nos no Shopping Pátio Paulista. Qualquer consequência lá dentro, ou até mesmo lamento de reacionários por não terem prendido mais gente que estava exercendo o direito de protestar, é culpa única e exclusivamente da polícia.
- Sim, quase a totalidade dos manifestantes eram estudantes universitários. Inclusive eu. Paris 1968 foi também assim. Turquia 2013 igualmente. Não estamos representando estudantes universitários, estamos representando toda a população. Esperaria ver em protestos assim aqui no Brasil mais que estudantes universitários, mas toda a classe trabalhadora vítima do aumento abusivo da passagem. O movimento não deve parar enquanto a tarifa não abaixar. E não apenas estudantes devem participar. Por acaso existe algum cidadão conscientemente feliz nessa cidade em pagar R$3,20 por uma precariedade que é o transporte nessa cidade? Duvido que tenha, logo não entendo o conformismo. Tudo que está sendo veiculado na mídia sobre o que foi o protesto do dia 6 de junho afasta o movimento de quem realmente interessa: a população. Reflita: quantos manifestantes você viu sendo entrevistado na TV? Por que não deu direito de voz a quem estava lá pelo ideal?
- Sim, votei no Fernando Haddad. A democracia não é apenas votar e escolher, mas cobrar de quem você votou e escolheu, independente da forma. O aumento da passagem foi uma punhalada pelas costas e mesmo eu crendo na reviravolta social/cultural que o futuro Bilhete Único Mensal e o plano de expansão “SP 2040” vão ocasionar, não posso aceitar esse aumento imediato. E se em outras cidades do país o Movimento Passe Livre conseguiu vitórias, com autoridades recuando no aumento da tarifa, aqui vou seguir na luta. Esperaria sinceramente que, se você também estivesse insatisfeito com o aumento viesse às ruas. Nas ruas temos pelo menos, chances.
Nenhum comentário:
Postar um comentário