Nelson Ned morreu. Quase nenhum psiu nas redes sociais sobre
essa baixa na música, muito diferente do furor que a morte do Reginaldo Rossi
provocou no mês passado. Afinal, a estatura de Ned era mais conhecida que sua
obra e para a nova geração – a qual eu faço parte. Ned era no máximo o anão do
comercial da Bombril.
O
Pequeno Gigante foi talvez o artista brasileiro que mais cantou para multidões no
exterior. Enquanto em sua terra natal era ridicularizado pela elite
musical, tocou duas vezes no Madison Square Garden, quatro vezes no Carnegie Hall
e em países latinos lotava estádios – não teatros, estádios. Numa noite no México cantou para mais de 80 mil. Ned era o cantor
brasileiro predileto do Gabriel García Marques. Vendeu mais de um milhão de
discos nos Estados Unidos e mais de 42 milhões em todo o mundo.
Nelson
Ned faz parte de um grupo talentoso da música popular brasileira que sempre foi
reduzido por aqueles que apreciam a tal Música Popular Brasileira. Idiotice
fazer essa separação entre letras minúsculas e maiúsculas, mas a grande maioria
ainda considera assim. Não que eu deprecie Chico e Caetano pelo fato de serem
os nomes chaves desse segundo grupo. Pelo contrário, eu os venero. Mas boto a
turma do Odair José e do Fernando Mendes no mesmo patamar. Para mim a música
popular brasileira, como um todo, não tem pra ninguém.
Considero os anos 70 como o grande ápice da música
brasileira. A molecada Chico, Caê, Gal, Milton, Elis, Belchior, Novos Baianos, Tim
Maia, Walter Franco estava no auge.
Era considerada a elite musical brasileira, a geração que elevou o status quo
da MPB. Mas nesse mesmo período, os verdadeiros P da sigla também estavam no
auge. Wando, Rossi, Mendes, Odair e Moacyr Franco lançaram seus maiores
sucessos, mas sempre foram deixados de lado, postos no mesmo patamar de bregas,
cafonas, ruins.
Brega.
Sinônimo de antiquado. Tal simplismo tem essa definição para agrupar esse
grupo, que percebemos como é errado tentar encaixar todos esses artistas numa
mesma categoria. Todos eles cantavam músicas românticas e faziam verdadeiras
crônicas da periferia. Mas reduzi-los a simples conotação de “antiquados” é um
atestado de ignorância cultural.
Vejamos
caso a caso. Nelson Ned e Agnaldo Timóteo flertavam com os boleros de Lucho Gatica.
Reginaldo Rossi era herdeiro da Jovem Guarda. Odair José, para mim um dos casos mais
interessantes, tinha como sua maior influência os Beatles.
Odair
José é uma figura que eu gostaria de ler uma biografia – por que não escrever?
Conversei com ele na saída do seu show no Sesc Pompeia em dezembro. Simples,
humilde e generoso. Sei que exalou rebeldia quando jovem. Saiu da
fazenda da sua rica família em Goiás para tentar a vida musical no Rio, onde
dormiu na rua e tocou “em todos os puteiros de Bangu a Copacabana”, como ele
mesmo afirma. Odair não se sujeitou às ordens das gravadoras e escreveu músicas
polêmicas que sofreram com a censura. Em seus álbuns, o Trio Azimuth e o
guitarrista Hyldon fizeram arranjos incríveis. Percebam a musicalidade e as influências
na sua música.
Paul McCartney é o maior ídolo de Odair José
Também
lembro das influências na obra do Fagner e do Amado Batista. Bob Dylan é brega por acaso?
No
lado inverso, alguns chavões da grande MPB, diferente da crítica chegaram a
considerar a obra das “bregas”. O que é insuportável é ver que na voz desses
caras as músicas anteriormente rebaixadas são instantaneamente elevadas a “obras
de arte”. Você realmente acha que ‘Você Não Me Ensinou a Te Esquecer’ é do
Caetano?
Nelson
Ned morreu aos 66 anos pobre e esquecido. Era anão. Nos últimos dez anos
perdera a visão do olho direito e tornara-se cadeirante. Convertera-se na
década de 90, quando já estava caindo ao ostracismo. As bebidas e as drogas dos
tempos de ouro estão narradas na sua biografia ‘O Pequeno Gigante da Canção’,
lançada em 96 que um dia hei de ler. Talvez agora com sua morte ele seja
lembrado, o que é tão cruel. Precisamos rever valores e reverenciar quem
merece. Tem muita gente boa viva ainda que precisa do reconhecimento, antes que
seja tarde.
Agora que já é tarde, só tenho a agradecer por tudo, Nelson Ned!
Agora que já é tarde, só tenho a agradecer por tudo, Nelson Ned!
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