14 de fevereiro de 2015

Hausu


Sábado, 14 de fevereiro de 2015, 4 horas da manhã. Estava preparado para a terceira sessão da madrugada no Museu da Imagem e do Som que apresentava longas-metragens de terror japonês no especial de sexta feira treze, mas jamais imaginava a epifania existencial que aquela projeção de noventa minutos significaria em minha vida.

O nome do filme, Hausu. Ou House. Não The House. Não The House of algum complemento. Apenas House. Não precisa de mais nada. O filme já diz tudo. Ou nada. Não importa. Não importa se ele não significa nada, ou significa tudo. Ele significa, ele basta.

A próxima uma hora e meia após aquele badalar das quatro da manhã do sábado de carnaval reservaram para mim a experiência mais antológica, significativa, emblemática, problemática, translúcida, impactante, enfim, inenarrável que uma sessão de cinema me reservou. Após noventa minutos de risos, exclamações – por vezes em voz alta – palpitação e sequências boquiabertas conclui que tinha visto o pior filme da minha vida e, ao mesmo tempo, o melhor filme da minha vida.

Não existe jeito maneira de classificar Hausu. Eu não saberia dizer a que categoria esta obra se encaixa. Horror? Sci-fi? Comédia? Terrir? Trash – que insulto!? Drama? Realismo fantástico? Aberração? Japonesice? Capaz. Nem ao menos uma sinopse eu saberia escrever sobre esta obra. A frase meme “eu não sei o que pensar, só sentir” se encaixa perfeitamente quando se trata deste filme. Eu não entregar nada da história é um ganho para você leitor. Qualquer comentário sobre a trama pode estragar a surpresa. Por mais que seja uma surpresa atrás da outra, sem tempo de se recompor.

Hausu acabou com todas minhas interpretações do que é cinema. Hausu tornou-se minha experiência cinematográfica máxima. Duvido que algum outro filme na história supere o que foi o choque, a surpresa de assistir este longa no cinema, numa madrugada de carnaval. Não pelo evento, mas pelo filme em si. Hausu conseguiu o inimaginável. Eu sinto que não preciso ver mais filme nenhum na vida. Nesta semana, justo quando estava assistindo as ruindades hollywoodianas que concorrem ao prêmio da Academia, aparece-me esta obra que muda minha percepção da vida, da realidade, do mundo, do universo, de deus, enfim, do cinema. Não preciso mais ver Hitchcock. Não preciso mais de Kubrick. De Allen, de Tarantino, de Dhalia, de Denis Villeneuve. Não preciso mais nem de José Mojica Marins.

Existe Hausu. É de 1977. Mesmo ano de Guerra nas Estrelas. Mesmo ano de Low do Bowie. Hausu é antenado em seu tempo com as tecnologias. Usa e abusa delas. Tecnologia setentista, a mesma que eleva Seu Madruga ao varal da vila. O efeito é sinergético. Faz de Buñuel um poser. Faria Dali chorar sangue.

Nobuhiko Obayashi é quem assina o projeto. É este o nome deste herói do século XX. Não conheço nada dele, ou sobre ele. Mas quero conhecer tudo. Quero saber de cada detalhe da produção desta obra. Inatingível obra-prima do cinema mundial, para bem ou para o mal. Aquelas sete garotas, onde estão? Como continuaram sua vida após a produção deste filme? Quem são os gênios que assinam a fotografia (aquelas cores! aquele pôr do sol! como é possível?), a trilha sonora (aquela melodia no piano essencial pra narrativa! aquela guitarra endiabrada na trama paralela!), a montagem (a montagem! inenarrável montagem, coisa de mestre, coisa de gênio!). Não lembro de um filme tão inquietante nesta minha trajetória pseudocinéfila como Hausu.

Meu absoluto desinteresse por cultura nipônica me privou de coisas que me orgulho desconhecer. Felizmente, nenhum otaku me recomendou Hausu. Certamente não teria assistido. Conhecer esta obra me fez repensar a minha, a nossa existência. É óbvio que eu recomendo a todos. Duvido que você fique indiferente diante desta (_) maravilha (_) aberração.

De bandeja: nada como assistir Hausu no cinema, mas como é quase impossível ter uma oportunidade de encontrar esta beleza na telona, tem pra baixar aqui: http://101horrormovies.com/2014/01/18/350-hausu-1977/

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