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Adolf e seu suposto seguidor, Bolsonaro |
Cara de xaxim, segundo o vocabulário particular da minha orquestra é a cara que a pessoa fica quando ouve algo inacreditável que não entendeu. Uma cara com olhos esbugalhados, tão boquiaberto que chega a escorrer baba pelo rosto pois o que você viu ou ouviu te deixa quase paralisado. E uma entrevista de menos de quatro minutos ontem no programa Custe o Que Custar da Band me deixou com esta cara de xaxim.
No quadro O Povo Quer Saber, foi entrevistado o nobre deputado federal Jair Bolsonaro do Partido Progressista carioca. A partir da primeira pergunta conheci quem é este sujeito, um parlamentar que apóia firmemente a ditadura militar no Brasil. Orra! Está em extinção esse tipo de babaca. Será que se ele tivesse levado um choquinho elétrico e um tapa na cara pelos torturadores ele seria tão homem de defender os militares? Afinal, ele não teria sido torturado, afinal com a boa família que ele deve ter tido, baba ovo do regime e sem classes sociais em ascensão para dividir os bons terrenos que frequentavam não teria porque querer democracia né? Tudo estava bom para a família Bolsonaro.
A seguir mais algumas perguntas sobre o militarismo e numa dessas respostas ele responde que não apóia a presidenta Dilma por ter sido terrorista e sequestradora. A que maravilha chamá-la de terrorista. E o que o delegado Fleury era? Ora se Dilma era Bin Laden, Fleury seria George W. Bush. Faça as contas, quem é mais terrorista? E logo na seqüência diz que Lula não é sério como Geisel, Médici e Figueiredo eram. Claro, porque não? Talvez porque os antecessores não davam oportunidade individual e liberdade de expressão?
No meio da entrevista comecei a me assustar. Quando perguntado sobre o que faria se tivesse um filho gay, a nobre autoridade proferiu as seguintes palavras: “isso nem passa pela minha cabeça, pois eles tiveram uma boa educação; fui um pai presente, então não corro esse risco.” Palmas para o deputado que acha que homossexualismo é um desvio de conduta a partir de má educação. Melhor palmas a quem votou nesse infeliz que disse uma blasfêmia dessas. Mas ainda tem mais, ele declara com todas as palavras porque não iria num movimento gay: “porque eu não participo de promover os maus costumes até porque eu acredito em Deus e na família.” Deus está ouvindo essa? Foi de lascar, fenomenal! Falando nisso a lei de homofobia foi aprovada já?
Mas nem tudo está tão ruim que não possa piorar. A entrevista que já parecia no fundo do poço prova que o poço não tem fundo. Ao ser perguntado sobre cotas raciais, di-lo ser contra e que não voaria em um avião pilotado por um cotista ou ser operado por outro. Bárbado isso! Afinal quem nasce pobre e não tem condições de pagar uma faculdade para mudar de vida não tem capacidade intelectual suficiente para tratar com o excelentíssimo senhor Bolsonaro.
Só que o melhor sempre vem no final, não é mesmo. Segue-se na íntegra: Preta Gil: “Se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?” Bolsonaro: “Ô Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Não corro esse risco porque os meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu.” Preciso comentar alguma coisa com essa declaração digna de reclusão de 2 a 5 anos de prisão conforme a lei 7.716 de 05/01/1989?
Em nota de esclarecimento segue na íntegra a desculpa esfarrapada de Jair Bolsonaro sobre suas declarações:
“A resposta dada deve-se a errado entendimento da pergunta - percebida, equivocadamente, como questionamento a eventual namoro de meu filho com um gay.
Todos aqueles que assistam, integralmente, a minha participação no programa, poderão constatar que, em nenhum momento, manifestei qualquer expressão de racismo. Ao responder por que sou contra cotas raciais, afirmei ser contrário a qualquer cota e justifiquei explicando que não viajaria em um avião pilotado por cotista nem gostaria de ser operado por médico cotista, sem me referir a cor.
O próprio apresentador, Marcelo Tas, ao comentar a entrevista, manifestou-se no sentido de que eu não deveria ter entendido a pergunta, o que realmente aconteceu.
Reitero que não sou apologista do homossexualismo, por entender que tal prática não seja motivo de orgulho. Entretanto, não sou homofóbico e respeito as posições de cada um; com relação ao racismo, meus inúmeros amigos e funcionários afrodescendentes podem responder por mim.”
Digna de um “Aham, Cláudia, senta lá!” Sei bem que ele não escutou direito. Sei bem como ele trataria uma nora negra... Afinal, se for verdade da parte dele ele não cometeu já um ato de preconceito contra gays? Afinal, quem votou nesse cara?
Larry Rohter, do New York Times foi unânime ao dizer porque o Brasil não alcança status de 1º mundo: pelo preconceito racial existente em nosso país. Daí vem inúmeros debates sobre leis cotistas e tentativas de extinguir com esse tabu nacional. Mas o deputado em questão demonstrou mais do que apenas racismo. Demonstrou homofobia e separatismo ao afirmar ser contra cotistas (em outras palavras mais severas, pobres).
Isso me lembra os mesmos idiotas que foram para a Avenida Paulista espancar gays e nordestinos, fato que nos últimos quatro meses vem se repetindo.Ho há, achei os eleitores do Bolsonaro! Seriam os nacionalistas extremistas que estão soltos por aí para todo mundo ver, com seus cabelos raspados e comunidades do Orkut do tipo “Paulistas a raça superior” e “Morte aos nordestinos”? Olha que as idéias deles com a do deputado são parecidas em alguns pontos, hein!
O nobre deputado afirma ser a favor do militarismo. Os skinheads afirmam ser a favor de um ultranacionalismo, ou nazismo descaradamente citando. Será que eles tem um pacto maldito de querer fundar o IV Reich no Brasil? Bolsonaro me parece o típico ditador casca grossa que botaria numa câmara de gás qualquer um que provocasse algum desrespeito à moral da família.
O que quero propor nesse post é uma reflexão sobre preconceito de qualquer espécie que assola o Brasil ainda e se reflete em quem elegemos deputado federal. Preconceito, inevitavelmente e infelizmente existe em cada um de nós. Mas a chegar ao ponto de dar declarações como o Bolsonaro deu ou a agressão que os carecas da Augusta, devem ser punidos com real vigor. E outro ponto crucial nesse aspecto é sobre o humor. Eu sou extremamente a favor da liberdade humorística, para liberar o humor negro como liberdade de expressão. Afinal, não é porque eu conto uma piada do tipo “carro movido a judeu corre bem na Alemanha” que eu seja anti-semita. Mas uma piada é extremamente diferente dos termos de separatismo racial, sexual e social que um deputado da república usou na entrevista.
Há muita coisa para refletir, muito para se debater, muito para melhorar. O que mais me assusta nessa história toda é que ainda existem eleitores de Jair Bolsonaro. Um detalhe que ele pertence ao partido progressista cujo presidente é Paulo Salim Maluf, que eu não tenho a mínima dúvida que tem seu pensamento parecido com o do Bolsonaro, mas obviamente não o diz em rede pública para não sujar a imagem política. Me resta olhar para esses casos que continuarão aparecer com cara de xaxim.
Veja a comovente entrevista do honroso deputado:
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