7 de março de 2012

O melhor filme do século



Na era da infantilização do cinema em que os nove filmes mais vistos do ano de 2011 foram continuações de filmes anteriores e todos os quarenta mais vistos não passam de historinhas adolescentes (ver lista http://bit.ly/hfN51v), em que o 3D e a alta tecnologia definem os paradigmas que lotam as salas, em que não se resta mais quase nenhuma sala de cinema na rua, surge O Artista.

Nunca vi um filme em 3D. Por minha negação às salas de shopping, ao sistema iMax, aos óculos e ao preço absurdo das exibições tridimensionais, ainda não tive essa experiência. Mas tenho absoluta certeza que nenhum filme dessa leva tecnológica vai me causar tanto frenesi quanto o filme mudo, preto e branco lançado em 2011 “The Artist”.

Fui no último sábado no Cine Livraria Cultura assisti-lo. Longe das salas de shopping é uma sala pequena e aconchegante. Seus 100 lugares da sala 2 lotados e um silêncio absoluto no público, difícil de se conseguir em uma sala de shopping onde se vende pipoca e bugiganga para alegrar criança. Saí no término da sessão em êxtase.

Como você já deve saber, a história se passa no momento de transição do cinema mudo para o cinema falado. Conta a história da angustiante decadência de um ídolo da era muda, George Valentin (em uma atuação impecável, histórica de Jean Dujardin) e da ascensão da jovem atriz Peppy Miller (a bela Bérénice Bejo) no cinema falado e como os dois se ajudam num misto de admiração e paixão. História simples, receita para uma obra prima cinematográfica.

Jean Dujardin faz uma atuação que vale o Óscar e todos os outros prêmios por ele recebido. Conseguindo com incrível habilidade fazer rir e chorar com seu jeito canastrão, passa de um esnobe artista em seu auge a um fracassado digno de dar pena na mesma tomada. Especificamente em duas cenas você fica com o coração na boca tamanha apreensão que o roteiro e a atuação nos dá. Quem pensa que filme mudo não emociona, está redondamente enganado. A história de Valentin faz refletir sobre atores como John Gibert e Douglas Fairbanks que não sobreviveram no cinema falado até mesmo em Charlie Chaplin que penou por um tempo com a mudança aterradora.

Outra atuação que merece atenção é do cachorro Jack (Uggie, que atuou também em Água Para Elefantes). Um herói a altura do lendário Millu do Tintin, esse cachorro é tão carismático que ganhou até mesmo a minha compaixão além da Palm Dog Award em Cannes.

A fotografia em preto e branco e a trilha sonora são outros pontos que transformam The Artist em algo tão especial. Para se fazer algo tão “revolucionário” como um filme mudo na era do 3D é necessário ter qualidade em todos esses aspectos, e The Artist esbanja desses dotes.

São poucos os títulos mudos que assisti. “Metropolis”, “Luzes da Cidade”, “Encouçarado Potemkin”, “Viagem à Lua” são alguns deles. A mágica da sétima arte de 80, 90 anos atrás permanece viva e deveria ser mais prestigiada. The Artist é um subterfúgio a esse cinema esquecido. A essa verdadeira arte que não se encontra mais nas enésimas transformações de quadrinhos e literatura barata em blockbusters para as massas. Recomendadíssimo por mim, acredito que você sairá do cinema literalmente sem palavras e verá que é desnecessária tecnologia em HD para se ter seu filme predileto.

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