29 de março de 2011

Quem precisa de um IV Reich?

Adolf e seu suposto seguidor, Bolsonaro

Cara de xaxim, segundo o vocabulário particular da minha orquestra é a cara que a pessoa fica quando ouve algo inacreditável que não entendeu. Uma cara com olhos esbugalhados, tão boquiaberto que chega a escorrer baba pelo rosto pois o que você viu ou ouviu te deixa quase paralisado. E uma entrevista de menos de quatro minutos ontem no programa Custe o Que Custar da Band me deixou com esta cara de xaxim.

No quadro O Povo Quer Saber, foi entrevistado o nobre deputado federal Jair Bolsonaro do Partido Progressista carioca. A partir da primeira pergunta conheci quem é este sujeito, um parlamentar que apóia firmemente a ditadura militar no Brasil. Orra! Está em extinção esse tipo de babaca. Será que se ele tivesse levado um choquinho elétrico e um tapa na cara pelos torturadores ele seria tão homem de defender os militares? Afinal, ele não teria sido torturado, afinal com a boa família que ele deve ter tido, baba ovo do regime e sem classes sociais em ascensão para dividir os bons terrenos que frequentavam não teria porque querer democracia né? Tudo estava bom para a família Bolsonaro.

A seguir mais algumas perguntas sobre o militarismo e numa dessas respostas ele responde que não apóia a presidenta Dilma por ter sido terrorista e sequestradora. A que maravilha chamá-la de terrorista. E o que o delegado Fleury era? Ora se Dilma era Bin Laden, Fleury seria George W. Bush. Faça as contas, quem é mais terrorista? E logo na seqüência diz que Lula não é sério como Geisel, Médici e Figueiredo eram. Claro, porque não? Talvez porque os antecessores não davam oportunidade individual e liberdade de expressão?

No meio da entrevista comecei a me assustar. Quando perguntado sobre o que faria se tivesse um filho gay, a nobre autoridade proferiu as seguintes palavras: “isso nem passa pela minha cabeça, pois eles tiveram uma boa educação; fui um pai presente, então não corro esse risco.” Palmas para o deputado que acha que homossexualismo é um desvio de conduta a partir de má educação. Melhor palmas a quem votou nesse infeliz que disse uma blasfêmia dessas. Mas ainda tem mais, ele declara com todas as palavras porque não iria num movimento gay: “porque eu não participo de promover os maus costumes até porque eu acredito em Deus e na família.” Deus está ouvindo essa? Foi de lascar, fenomenal! Falando nisso a lei de homofobia foi aprovada já?

Mas nem tudo está tão ruim que não possa piorar. A entrevista que já parecia no fundo do poço prova que o poço não tem fundo. Ao ser perguntado sobre cotas raciais, di-lo ser contra e que não voaria em um avião pilotado por um cotista ou ser operado por outro. Bárbado isso! Afinal quem nasce pobre e não tem condições de pagar uma faculdade para mudar de vida não tem capacidade intelectual suficiente para tratar com o excelentíssimo senhor Bolsonaro.

Só que o melhor sempre vem no final, não é mesmo. Segue-se na íntegra: Preta Gil: “Se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?” Bolsonaro: “Ô Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Não corro esse risco porque os meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu.” Preciso comentar alguma coisa com essa declaração digna de reclusão de 2 a 5 anos de prisão conforme a lei 7.716 de 05/01/1989?

Em nota de esclarecimento segue na íntegra a desculpa esfarrapada de Jair Bolsonaro sobre suas declarações:

A resposta dada deve-se a errado entendimento da pergunta - percebida, equivocadamente, como questionamento a eventual namoro de meu filho com um gay.
Todos aqueles que assistam, integralmente, a minha participação no programa, poderão constatar que, em nenhum momento, manifestei qualquer expressão de racismo. Ao responder por que sou contra cotas raciais, afirmei ser contrário a qualquer cota e justifiquei explicando que não viajaria em um avião pilotado por cotista nem gostaria de ser operado por médico cotista, sem me referir a cor.
O próprio apresentador, Marcelo Tas, ao comentar a entrevista, manifestou-se no sentido de que eu não deveria ter entendido a pergunta, o que realmente aconteceu.
Reitero que não sou apologista do homossexualismo, por entender que tal prática não seja motivo de orgulho. Entretanto, não sou homofóbico e respeito as posições de cada um; com relação ao racismo, meus inúmeros amigos e funcionários afrodescendentes podem responder por mim.”

Digna de um “Aham, Cláudia, senta lá!” Sei bem que ele não escutou direito. Sei bem como ele trataria uma nora negra... Afinal, se for verdade da parte dele ele não cometeu já um ato de preconceito contra gays? Afinal, quem votou nesse cara?

Larry Rohter, do New York Times foi unânime ao dizer porque o Brasil não alcança status de 1º mundo: pelo preconceito racial existente em nosso país. Daí vem inúmeros debates sobre leis cotistas e tentativas de extinguir com esse tabu nacional. Mas o deputado em questão demonstrou mais do que apenas racismo. Demonstrou homofobia e separatismo ao afirmar ser contra cotistas (em outras palavras mais severas, pobres).

Isso me lembra os mesmos idiotas que foram para a Avenida Paulista espancar gays e nordestinos, fato que nos últimos quatro meses vem se repetindo.Ho há, achei os eleitores do Bolsonaro! Seriam os nacionalistas extremistas que estão soltos por aí para todo mundo ver, com seus cabelos raspados e comunidades do Orkut do tipo “Paulistas a raça superior” e “Morte aos nordestinos”? Olha que as idéias deles com a do deputado são parecidas em alguns pontos, hein!

O nobre deputado afirma ser a favor do militarismo. Os skinheads afirmam ser a favor de um ultranacionalismo, ou nazismo descaradamente citando. Será que eles tem um pacto maldito de querer fundar o IV Reich no Brasil? Bolsonaro me parece o típico ditador casca grossa que botaria numa câmara de gás qualquer um que provocasse algum desrespeito à moral da família.

O que quero propor nesse post é uma reflexão sobre preconceito de qualquer espécie que assola o Brasil ainda e se reflete em quem elegemos deputado federal. Preconceito, inevitavelmente e infelizmente existe em cada um de nós. Mas a chegar ao ponto de dar declarações como o Bolsonaro deu ou a agressão que os carecas da Augusta, devem ser punidos com real vigor. E outro ponto crucial nesse aspecto é sobre o humor. Eu sou extremamente a favor da liberdade humorística, para liberar o humor negro como liberdade de expressão. Afinal, não é porque eu conto uma piada do tipo “carro movido a judeu corre bem na Alemanha” que eu seja anti-semita. Mas uma piada é extremamente diferente dos termos de separatismo racial, sexual e social que um deputado da república usou na entrevista.

Há muita coisa para refletir, muito para se debater, muito para melhorar. O que mais me assusta nessa história toda é que ainda existem eleitores de Jair Bolsonaro. Um detalhe que ele pertence ao partido progressista cujo presidente é Paulo Salim Maluf, que eu não tenho a mínima dúvida que tem seu pensamento parecido com o do Bolsonaro, mas obviamente não o diz em rede pública para não sujar a imagem política. Me resta olhar para esses casos que continuarão aparecer com cara de xaxim.

Veja a comovente entrevista do honroso deputado:

23 de março de 2011

Sobre cinema de rua e Elizabeth Taylor

No começo do ano fiz uma promessa quando saí do Belas Artes na última sessão que fui lá. A de não ir a cinema de shopping no ano de 2011 e por que não, nunca mais. Ao sair de um cinema de rua, como o Belas Artes, o Espaço Unibanco, o Olido, você sai revigorado, tendo a visão de um saguão que dá para a rua, simples e maravilhoso. Mas ao sair de um cinema de shopping e se dar com aquele espaço fedido que se mistura ao insuportável cheiro de pipoca com o cheiro do carpete vermelho, dá desânimo.

Mas as diferenças vão muito além da saída. Logo na entrada, no mesmo salão você nota o horrível carpete contracenando com a horrível pipoca do shopping center e o piso lustrado com o aromático café do cinema de rua. Para chegar num cinema tendo que passar por uma praça de alimentação também já quebra 70% do tesão de ver um filme. As pessoas que fazem quilométricas filas em shopping centers para fazer barulho rangendo a poltrona ou mastigando pipoca não são as mesmas que freqüentam os cinemas de rua cada um mais alternativo. Exemplo de freqüentador de cinema é o ator Paschoal da Conceição, nosso querido “Doutor Abobrinha” que encontrei no Espaço Unibanco e que nunca encontraria em algum Cinemark de shopping.

Mas com tantos detalhes estamos esquecendo do principal de um cinema: um filme. Logo hoje, quase quebrei minha promessa, e incentivado por minha companheira na ocasião nos movemos ao shopping Itaquera para ver algum filme, mas chegando lá não foi quebrada a promessa. Por quê? Por falta de filme bom.

Pra alguém que se acostuma a ver os melhores filmes estrangeiros e nacionais, ou obras primas hollywoodianas na tela grande, ver filmes de títulos como “Esposa de mentirinha”, “Vovó Zona 3”, “Invasão do mundo: Batalha de Los Angeles” deprimem muito na hora de comprar o ingresso. Por isso resolvi nem gastar dinheiro com umas coisas dessas. Economizo semana que vem para ir num cinema de verdade que passe filmes de verdade.

A cada cinema de rua que fecha entro em depressão total. Quando vi então na TV que o Belas Artes ia fechar comecei a chorar desesperadamente. É um crime o que os ricaços fazem, destruindo cinema para construir loja, igreja ou sala de exibição pornô. Inadmissível. O Belas Artes pode não ser meu cinema predileto, mas é o melhor de São Paulo. Tem a melhor localização o possível, a melhor seleção de filmes e dá para você sentir a vibração do metrô enquanto assiste ao filme.

Cheguei em casa depois da frustração do cinema, mais uma vez me frustro: Elizabeth Taylor morreu. Triste ver uma atriz de ótimos filmes como Cleópatra e Gata em Teto de Zinco Quente nos deixar com essa safra de filmes ruins que vi em cartaz no shopping. Espero que Taylor olhe por nós, ajude a melhorar as estréias e proteja minhas tão amadas salas de rua.

20 de março de 2011

São Paulo à deriva


Há alguns dias vi no Jornal da Cultura, um dos comentários mais duros e verdadeiros de que me recorde. “São Paulo está sem prefeito. O que está governando é apenas um homem pensando em seu futuro político. Essa simples frase explica um turbilhão de coisas inexplicáveis que se resume em uma só pergunta: por que Gilberto Kassab não faz nada?

Por que a cada dia estamos com mais congestionamentos e o prefeito não toma nenhuma providência perante a situação? Por que a cena de enchentes se repete a cada ano sem que ninguém faça nada para diminuir os danos? Por que, enquanto o Rio de Janeiro está trabalhando a todo vapor pra receber a copa e as olimpíadas, São Paulo é incerta se vai receber jogos da copa ou não? Todas essas perguntas se respondem com o comentário citado acima.

Afinal, um prefeito com futuro promissor não pode botar um pedágio urbano nem remodelar o sistema de transporte público de uma hora pra outra para não se prejudicar nas próximas eleições. Também não pode fazer obras de desassoreamento nem retirar famílias de suas casas – mesmo condenadas a ir pro buraco – para não criar uma visão negativa de quem não tem pra onde ir. E também não pode brigar com autoridades maiores para transformar São Paulo em uma cidade sede porque pode sujar seu nome contra demais aliados.

Eu realmente gostava de Kassab no seu primeiro mandato. Ele assumiu o mandato depois do canalha sem denominação saiu da prefeitura para concorrer ao governo e mostrou ter pulso firme na administração. Retirou malocas do meu bairro e fez praças e quadras no lugar, implantou a melhor lei que já entrou vigor nessa cidade nos últimos 10 anos, a Lei Cidade Limpa, mostrou ter braço de ferro e brigou com vereadores, eleitores empresas, manteve a passagem de ônibus em um mesmo preço durante três anos.

Mas ultimamente, o nosso prefeito vem fraquejado propositalmente visando seu futuro político. Deu boi pras cooperativas e em dois anos a tarifas subiram setenta centavos. Quem reclamava, mandava a polícia em cima, numa atitude digna de Kadafi. Não fez nada no Jardim Pantanal, nem nas vias que de ano em ano vem naufragando durante as chuvas de verão. Andou dando pontos facultativos nas vésperas de feriado pros funcionários públicos apenas em ano de eleição, e nos outros, botou a negrada pra trabalhar.

E os ônibus que estão por aí? Ônibus que por sinal, de tão velhos que estão, não conseguem terminar o trajeto. Quebram constantemente, e os que conseguem sobreviver demoram horas a mais do que se fossem novos. Soube em primeira mão que nosso prefeito afirma que a frota tem de ser trocada após o mandato dele, por volta de 2013. Claro, afinal, faltando um ano pra Copa, tem que estar tudo novo e impecável para os gringos adorarem e deixa que a próxima versão se vire.

Sobre os congestionamentos, Kassab afirmou que vai elaborar um plano para diminuir congestionamentos. Qualquer cidadão com um QI acima de 0,9 saberia: ele vai investir em transporte público. Mas não, ele vai anéis viários. Obviamente, o cidadão de QI 1 vai imaginar o quanto isso vai causar: toneladas de asfalto para impermeabilizar o asfalto, toneladas de CO2 na atmosfera para deixar o nosso ar um pouquinho mais sufocante, mais automóveis, consequentemente mais congestionamento. E o transporte público? Deixa pro governo do estado construir o mirabolante sistema de transporte leve sobre trilhos. O teorema de Kassab lembra bem o de Maluf em alguns momentos.

Mas de tudo, o que mais me irrita é ver na TV diariamente as inúmeras propagandas mostrando gente paga para falar que a saúde, o transporte e a educação de São Paulo são as melhores do país e porque não a do mundo. Ora, eu paulistano que convivo com a realidade sei bem que não é nada disso.
Isso também quem gosta de fazer é nosso governador, mas vou deixar para homenagear o governo do estado em outra ocasião poir também é um caso a parte – tão ruim quanto esse, mas a parte.

Depois dessa análise nem tanto minuciosa, lhe pergunto apenas se esse homem que você botou na prefeitura merece mais uma vez o seu voto? Olha que se ele está impassível assim na prefeitura, imagine ele no governo do estado ou no senado.

14 de março de 2011

Feliz dia do π!

'Pie', a torta é o símbolo máximo das comemorações do dia do Pi

Li há alguns anos numa pesquisa no Wikipedia que Albert Einstein nasceu no dia 14 de março de 1879. Por algum motivo, acabei clicando no link do artigo sobre o dia 14 de março. Foi uma das descobertas mais inúteis e legais que fiz: o dia 14 de março é o Dia do Pi!

Fantástico, como eu, com meus tenros 14 anos não sabia desta magnífica informação? Um dia de comemorações ao número insignificante que já me ferrou muito nas provas. Obviamente, é coisa de americano (desocupado).

Resumindo a história é o seguinte: π, como todo cidadão deveria saber (deveria, pois nem eu sei direito) é o número infinito 3,1415927, que - não sei qual é - tem uma finalidade em geometria. Uma aproximação para facilitar, conta que π seja simplesmente 3,14. E por não ter mais nada de interessante para fazer, em 1988, Larry Shaw decidiu comemorar no dia 14 de março (14/3, ou no calendário americano 3/14), em São Francisco o dia do Pi.

Para festejar geral, Larry, que ganhou o título de Príncipe do Pi, juntou um grupo de amigos para sair pelas ruas de São Francisco e comer tortas (pie, em inglês, com pronúncia idêntica). O auge da comemoração é à 1 hora, 59 minutos e 26 segundos, para se encaixar corretamente a sétima casa decimal (3/14 1:59:26).

Toda essa patifaria é levada a sério pela universidade de Massachusetts e a festa cresceu com milhares de tortas sendo distribuídas. Fico imaginando se a moda pega no Brasil e passamos a comemorar datas de números matemáticos. Ora seria mais um carnaval inútil, ora seria um avanço educacional para mostrar aos estudantes maneiras mais dinâmicas de se aprender o Pi? Não sei, só sei que em minha festa particular do número PI, parabenizei todos meus professores e ex professores de matemática por telefonemas e e-mails e comprei uma deliciosa torta holandesa na padaria que vou degustá-la agora. Nada melhor que terminar um post de asneira, falando asneira.

Larry Shaw, o desocupado que virou o Príncipe do Pi.

4 de março de 2011

Os Carnavais da ETEC


Bem antes de minha ETEC virar sócia de uma escola de samba, quando ainda era ETEC Arthur Alvim e não Tereza Aparecida Cardozo Nunes de Oliveira (finada presidente da GRES Leandro de Itaquera, nossa patrona) eu já fazia samba para homenagear este lugar.

Em três anos de ETEC, logo na semana do carnaval juntei as frases e os fatos mais marcantes que nos aconteceram e botei no papel. Disseram-me que minhas letras evoluíram, mas a cadência do samba caiu um pouco. Olha que realidade mórbida, pois a gente vê isso nos próprios sambas que desfilam no Anhembi (não tem como comparar a simples letra linda de “Bum bum paticumbum prudurungum” com uma letra super bem trabalhada E feia de um enredo como “O Seu, o Meu, o Nosso Rio, Abençoado por Deus e Bonito por Natureza”).

Neste post trago os três enredos que compus nesses três anos. Por isso é dedicado aos alunos de minha ETEC, principalmente aos que conviveram as histórias narradas e vão entender no ato cada tirada.

Vamos aos sambas. Chora cavaco!

Enredo 2009:
A Influência do Bilhete Único no Estudo de uma Escola Técnica

Letra e Música: Emerson Dylan

Chumbo e vermelho é o que minha escola veste
É o Itaim descendo a Waldemar Tietz
O que eu queria mesmo era ser vermelho e preto
Mas não deram dinheiro pra gente comprar o retro

Eu nunca saí de ônibus, e levantava só às dez
Passei na Prova da ETEC e começou o meu Stress
De ônibus lotado logo ao amanhecer
Começaram as minhas aulas quando ainda não era pra ser
Chegando logo lá meu sonho se decepcionou
Porque no Corpo Docente só existia professor
Vamos morrer, é Tempo de Matar!
Em inglês, vamos conversar!
Eu já li o Dom Casmurro
Mas ela deixou-o pra lá

A ETEC Arthur Alvim está chegando aí
Ligando os alunos até o Itaim
O Samba na escola é pra tirar o tédio
O que o Brasil quer mesmo é um Bom Ensino Médio

Enredo 2010:
De Justo e Broto Todo Mundo Tem Um Pouco: A Revolução Nerd-Gay-Negra Nas Cercanias da COHAB
Letra e música: Emerson Dylan


Ser justo é tenso foi o que eu aprendi
A ETEC ainda não conquistou o Anhembi
Só que no Itaim ela sempre estourou
Mais uma vez Arthur Alvim brotou

Um ano de glórias e desastres
Waldemar testemunhou
De hits e neologismos,
Nossa escola se caracterizou
No blog da internet, nós viramos um astral
Da COHAB ao espaço sideral!
Direitos e valores
Todos conseguiram ter
E por essa negrada ‘viada’
Eu também me apaixonei

Mais uma vez a ETEC vem aí
De bilhete único lá do Itaim
Nossos ícones ficaram para trás
Mas nós continuamos, porque é assim que se faz!

Marco Pólo... Pedimos sua bênção,
Na conquista de novas terras
De Salesópolis à Pinacoteca
Paulo Freire, Gil Vicente
Descobriram o nosso talento
Nossa alegria remanescente
A cada dia, a cada momento
E o sucesso não mudou ninguém
Porque ninguém nunca fez sucesso
Somos absolutos mesmo sem assédio
E o que importa é o nosso Bom Ensino Médio

Enredo 2011:
O Homem Que Se Metarmofizou: De Como Arthur Alvim Se Assumiu Tereza Nunes

Letra e música: Emerson Dylan

A Cohab I virou minha comunidade

Até o Itaim perdeu sua identidade
Sempre indo a banca antes de entrar
Não tem como não se apaixonar

Vem... Descendo a Waldemar Tietz
O homem que se transfigurou
Artur Alvim espelhado em seus alunos
Em Tereza Nunes se metarmofizou
E a Cohab nunca mais foi a mesma
Devido a nossa ETEC Tereza
Nada mudou, nós continuamos os mesmos
Só chegaram mais trezentos
E Paulo Freire ganhou companhia do pagode
Pois a loucura já faz parte do pacote

Com muitas bebidas eu me entupi
De café com leite a pinga de Cambuci
Em Paranapiacaba eu me aventurei
E se não fiquei bêbado, eu escorreguei

Eu fui ao teatro e você sacou
Que Inês também é gente decente
Mas discussão foi algo que não faltou
Pois no filme de espanhol a gente não se entende
E a xuela, inocente perseguida
Pela censura, perdeu de vez a sua vida
Maquiavel montou o bonde da Romanha
Pois carnaval e educação dá samba
Mesmo tento o Alef nesse intermédio
Eu concluo que tive um bom ensino médio

2 de março de 2011

Sobre Nina e Raskolnikov


Nina, de 2004 é um filme interessante. Interessante porque é quase uma charada intertextual, onde você descobre o filme ou ele te devora. Comecei a assistir ontem no Canal Brasil e logo no primeiro diálogo matei a charada de cara.

“Existem pessoas ordinárias e pessoas extraordinárias”. Esta frase me levou às páginas da obra de Fiódor Mikhailovich Dostoievski no ato.Só quem leu Crime e Castigo mataria a charada que é o filme.

Crime e Castigo é uma das melhores obras que já li. O universo psicológico construído por Dostoievski em sua personagem Rodión Românovitch Raskolnikov é angustiante, o estudante que sobrevive na miséria em São Petersburgo, mata uma velha agiota e passa as outras quinhentas páginas submerso no castigo mental que este crime gerou, é um enredo que não sairá facilmente da minha cabeça, coisa apenas conseguida por grandes obras que me tocaram fundo. E foi por isso que associei tão rapidamente a primeira cena de Nina com a obra de Dostoievski.

Nina é uma jovem de fora que sobrevive em São Paulo, hospedada num quarto que divide com uma velha mesquinha que, por não receber os atrasados  a humilha e tortura, trancando a geladeira a cadeado, deixando Nina passar fome. Atormentada pela velha e pela sociedade ao redor, Nina mergulha, como Raskolnikov numa loucura, num vórtice psicológico sem fim e, por fim acaba matando a velha e sentindo o peso da culpa recair sobre ela.

Inúmeras personagens que aparecem no filme fazem clara alusão a Crime e Castigo, como os pintores e os oficiais de justiça – imaginários para Nina. Outras alusões são os cartuns que guiam a história transformando o filme numa atmosfera diferente e uma cena em que Nina sonha com um sacrifício de cavalo.

Talvez o mais impactante do filme seja a sua fotografia obscura que transforma em um clima tenso, como é propriamente na obra de Dostoievski. A atuação de Guta Stresser também é fantástica, revelando tal ambientação psicológica qual era de Raskolnikov. Palmas também para a Myriam Muniz que interpreta a cruel velha Eulália em seu último papel na vida, vindo a falecer no mesmo ano. Ao todo, Nina é um ótimo filme, uma contextualização de um dos maiores escritores da literatura mundial, de um jovem diretor que é Heitor Dhalia (Nina é seu primeiro longa metragem) e do roteirista Marçal Aquino que adaptou Crime e Castigo sem reler, tendo apenas suas páginas na memória (assim como eu, Marçal leu a obra aos 16 anos).

Vale a pena procurar e assistir. Mas não se esqueça primeiramente de ler Crime e Castigo, que além de ser uma obra prima que te marcará, vai te ajudar a matar as charadas do filme.