28 de fevereiro de 2011

Músicas para viajar

Não existe coisa mais triste que andar de ônibus lotado em São Paulo, antes de raiar o dia, parado no trânsito, amarrotado entre sovacos e encoxadas sem nada para distrair. Alguns gostam de ler no ônibus. Eu também gosto, mas quando estou sentado. Até mesmo porque é impossível, você em pé, empurrado pra lá e pra cá se equilibrar lendo um livro de 800 páginas como a biografia do John Lennon que estou lendo no momento.

Por isso, meu MP4 salva minhas viagens sem salvação de toda manhã para a escola. Seja ruim como for, estou lá, junto à música colada no meu ouvido, descobrindo álbuns que não tinha ouvido ainda e apreciando meus álbuns prediletos. Minha seleção atual conta com uma diversidade enorme, indo desde João Gilberto a Beach Boys, passando por coisas desconhecidas como Troggs, Tulipa Ruiz, Los Porongas até ícones como Paul McCartney, Adriana Calcanhotto, Jorge Ben, passando também por coisas estranhas, como música indiana, Ronnie Von e Beitut.

Mas sempre tem aquela coletânea de prediletas. Nessa coletânea tem mais de 50 músicas que mais gosto de ouvir. Vão de Chico Buarque e The Monkees até Zéu Brito e Nicola di Bari.

Só que essa coletânea que vou fazer agora é diferente. É propícia para minhas viagens de lotação em que viajo por dentro da música e me desconecto do desconforto que estou passando. É um efeito interessante, quase de um LSD cada música influi na minha viagem. Por isso vou postar essa copilação de 10 músicas para vocês experimentarem a sensação.

Todas as músicas são compridas e com um ar de experimental, mas provocam uma verdadeira viagem em terceira dimensão nas minhas viagens. São brisas particulares que acredito que pode causar em quem ouvir também. Aqui vai. Te aconselho a baixá-las e botar em seu iPod, MP3 ou seja lá o que for e escutar em sua viagem, seja de ônibus, Kombi, Uno, caminhão ou seja lá o que for.

Tom Zé - Atchim
Chemical Brothers – Escape Velocity
Stone Roses – Fools Gold
Elmir Deodato – Also Sprach Zarathustra
Ludwig van Beethoven – Sinfonia nº 9 – 2º Movimento
Jean Michel Jarre - Revolution
The Doors – Soft Parade
Os Mutantes – Meu Refrigerador Não Funciona
Sonic Youth - Mote
Violeta de Outono – Sombras Flutuantes


Existem muito mais músicas do tipo, mas as 10 principais pra mim são essas. Aceito indicações sobre mais músicas do tipo. Aos que tiverem curiosidade de ouvir esta listagem que passei, uma boa viagem!

16 de fevereiro de 2011

Brasil: uma crônica de humor

Foto: Google
Obra de Maria Luíza Carneiro de Faria

Essa semana em minha casa foram histórias maravilhosas de como o Brasil é bagunçado. Não dá mais para chorar com uma situação dessas, por isso vamos rir. Vamos rir dessa tragicomédia que chafurda diariamente no nosso cotidiano, independente de onde estivermos, do que estamos fazendo. Então, vamos agora às três crônicas que, mais inviável, impossível, marcaram a semana em minha casa, cada um protagonizado por um membro da família.

1º O caso da troca de banco

Meu irmão é um feliz atendente do Sac de certo banco verde amarelo. Só que desde o último domingo, este banco, sumiu do mapa. Acabou se tornando uma outra instituição, desta vez vermelha, com o sistema inteiramente diferenciado. Até aí normal, já estava prevista essa modificação, por causa do mercado capitalista que o vermelho europeu engole o verde amarelo brazuca. Até aí, todos os clientes da finada instituição já estavam cientes da mudança e de quando a mudança iria ocorrer. Mas quando o cliente, ao precisar urgentemente no domingo sacar um dinheiro da sua conta no finado banco, ou utilizar o cartão em alguma compra e ver que já continha uma conta correndo na instituição vermelha, como era na verde amarela, mas sem o dinheiro que existia na verde amarela, o cliente entrou em pânico momentameamente.

Daí o suposto cliente liga no domingo a tarde ou na segunda de manhã para o novo Sac, agora inteiramente vermelho, onde um dos funcionários é meu simpático irmão. Mas o atendente do Sac não sabe o que aconteceu nem como resolver o problema. Culpa do atendente que não leu as instruções? Não. Culpa do supervisor que não explicou as instruções? Não, porque o supervisor também não sabe o que está ocorrendo. Culpa do gerente que não organizou direito a situação? Não, pois nem ele sabe como resolver a questão. Culpa do dono? Não, porque o coitado nem sabe falar português.

Aí, a simples lógica que o atendente meu irmão usa: “Senhor, vai pra agência.”  Chegando na agência, o cliente tem a visão do julgamento final onde todos são condenados ao inferno. Gritaria, discussão, empurra empurra, luor e lágrimas e só uma coisa de semelhante: todos estão perdidos, seja cliente, gerente, supervisor ou qualquer outro subnível. Esta simpática ocorrência já persiste desde domingo (13 de fevereiro) e não tem prazo para acabar enquanto não botarem alguma ordem, se é que é possível o fazer. Onde está o dinheiro do cliente? Se nem o chefão do banco vermelho sabe, eu é que vou saber?

2º A atendente que deixou o posto

Meu pai é um alegre senhor que compareceu a certo hospital de funcionários públicos para marcar um certo exame. Como todo bom paciente, pegou uma senha e pacientemente, esperou por sua vez, indo se sentar em um dos bancos do saguão, quando viu uma das cenas, se não mais tristes, então mais engraçadas que se possa imaginar.

Uma atendente para milhares de (im)pacientes. Uma paciente mais impaciente ainda, com sua filha. Um senhor que para no saguão apenas para pedir uma informação, não marcar uma consulta, nem furar fila. Segue-se a cena:
SENHOR: Moça, eu queria uma informação, é aqui que marca consulta com a Dra. (?) ?
ATENDENTE: Sim senhor você...
FILHA DA IMPACIENTE: Mãe, to com fome
IMPACIENTE: Sim, filinha, estamos todos com fome com essa demora. E ainda atende gente que nem tem senha!
ATENDENTE: Desculpe, senhora, não estava o atendendo, estava apenas passando uma informação. Aguarde sua vez.
IMPACIENTE: Ah é? Você tá me dizendo que passar informação não é atender? Você tá querendo me fazer de otária ou o que?
ATENDENTE: Não, senhora, você entendeu errado eu só quis dizer que...
IMPACIENTE: Eu entendi errado? Você tá me chamando de louca? Eu vi! Tem um monte de testemunhas aqui que viram também. Você fica fazendo a gente de idiota aqui esperando esse tempo todo e atende quem passa na frente sem vergonha nenhuma, o que você quer, hem?
ATENDENTE: (com lágrimas nos olhos): Senhora, você está complicando tudo, não quis causar nada disso, por favor aguarde sua vez.
IMPACIENTE: Aguardar minha vez? Olha aqui, meu número tá no visor há horas e você fica me enrolando aqui com sua ladainha. Me atende, incompetente.
ATENDENTE: (chorando e tremendo se levanta) Já chega! Não agüento mais isso aqui! Não agüento mais!

E a atendente sai de sua mesa pela porta do fundo do saguão. Reboliço geral. Passam 45 minutos sem atendente, sem informações. Pessoas começam a se deslocar para a diretoria do hospital. Meu pai fica. Com a sala quase vazia, aparece alguém e atende meu pai.

3º Os armários que custam o dobro

Era penúltima aula quando a vice diretora entra na minha sala com os avisos rotineiros. Formatura, blá blá blá, carteirinha, blá blá blá e os armários. Só nesse aviso, já estipula falência de qualquer pai. Mas dois já se resolve logo de cara: formatura pra quê? Pega o diploma, abre uma cerveja e pronto, não precisa de festas, becas e todos frescurites caros. Carteirinha? 15 reais num cartão? Sou mais pegar declaração grátis e usar esse papel o ano todo.

Mas um caso merece atenção: Armários. O caso é tão estrambólico que passa do limite imaginável de qualquer roteirista de cinema nonsense. Causa: A gente paga APM no valor de 100 reais no começo do ano. Conseqüência: a escola compra armários, num valor total de 6000 reais. Certo, pagamos APM temos direito ao armário de graça, pois nossa parte já está paga para gozarmos dos direitos e deveres da escola, não? Errado. Temos que repor o dinheiro da APM, olha que coisa linda. Valor do armário: 100 reais.

Che a ser fantástico. A gente paga 100 reais para termos armários no começo do ano e quando temos os armários, temos que pagar mais 100 reais para usar os armários! É incrível! Como se chama isso: Tem nome uma bizarrice dessas? Após o aviso da vice diretora espalhei essa teoria para tentar impedir as pessoas de gastar 100 reais com um armário que já foi pago uma vez. Vamos ver no que dá essa história cômica.

De minha parte, está tudo certo. Ora eu não pago APM, ora eu não pago armário. Sou brasileiro sim.

Depois dessas três crônicas irreais que são reais te pergunto: é pra rir ou é pra chorar? Só sei que só foram três em uma semana. E sei que no seu cotidiano tem sempre histórias mais cômicas que essas. Só me faço a triste pergunta: por que tudo no Brasil é tão atrapalhado, bagunçado e errado? Será que não tá na hora de botar ordem na situação? Hoje o doodle do Google está com um bonitinho desenho de uma menina de 9 anos que se intitula “Nosso Brasil do Futuro”. A menina fará parte desse futuro que ela desenhou? Será que neste florido futuro estará as coisas sob controle? Será que situações como essas nunca vão se acabar em nossas vidas? Só nos resta esperar pelo nosso Brasil do futuro pra ver.

14 de fevereiro de 2011

Thailand Elephant Orchestra

Eu poderia muito bem ter dormido sem isso, pois sinto que terei pesadelos. Mas já foi um trauma ter visto, vou compartilhar com vocês:


Certinhos, afinadinhos e insuportáveis.


Antes de começar a desabafar meu desagrado, devo falar que, perante o fato de eu ser músico, minhas idéias vão completamente contra a maré da lógica. Mas é minha opinião e isso ninguém tasca, a não ser Hosni Mubarak. Mas como estamos no Brasil de Dilma, vamos às criticas e á liberdade de expressão. Não me condenem por isso.

Já arrumei briga e vi muita cara feia quando assumo que odeio Glee. Que não suporto Glee. Que Glee é uma merda. Fazer o que, pra mim é. Mas o que estava vendo nos meus remotos cantos da memória, que minha capacidade de desgostar de musicais certinhos, bonitinhos e – principalmente – afinadinhos, vai muito além da série da Fox.

Filme musical. Segundo o Wikipédia, gênero cinematográfico que utiliza em sua narrativa, diversas sequências de linguagens artísticas como música, canções e coreografia. Pronto, entrou música no filme de maneira fantasiosa estragou o filme.

Minha história com filmes musicais vêm desde a infância, em que eu odiava os desenhos animados que as personagens cantavam e dançavam do nada. Subia-me uma incrível vergonha alheia de vê-los ali, a meu ver, fazendo papel de ridículos. Com seis anos eu já deixava de ver Todos os Cães Merecem o Céu por suas intragáveis músicas.

Minha vida continuou, comigo sempre fugindo de filmes em que os artistas cantavam e dançavam. Mas sempre tinham as exceções, claro. Os que eu não gostava realmente, é quando eles vinham e cantavam afinadinhos e bonitinhos.

Nessa fase de minha vida, surgiram Rebelde e High School Musical, dois tipos de seriado feito para gente da minha idade, ao qual eu sentia vergonha da idade que eu tinha. Provavelmente, esses dois fatídicos programas vieram surgir para me afastar completamente dos musicais. Ora, que coisa ridícula eram aqueles pré-adolescentes cantando em suas escolas? Meu mundo escolar não era de jeito nenhum parecido com aquilo, ora, desde a sexta série sonhava com um estrelato, mas com um estrelato muito mais rock in roll que cantar afinadinho com cabelo penteado.

Rebelde e High School talvez foram umas das coisas mais ridículas que já suportei. A ver apenas pelos fãs que eu conhecia, dava para se notar como era ridículo tudo isso. Meu senso crítico aos 12 anos de idade eram já extremamente aguçados para o anti-modismo dos tradicionais 12 anos de idade.

As músicas que os outros pré-adolescentes cantavam tiravam qualquer chance de um dia eu vir assistir um desses seriados. Mas o tempo passa e eu vejo que não só seriados são ruins. Filmes também são. E o mais triste por acaso é que filmes com ídolos meus são péssimos.

Quando parti pros clássicos, vi como Jailhouse Rock com Elvis Presley, Help! Com os Beatles e Em Ritmo de Aventura, com Roberto Carlos são banais ao extremo. Fazia um sinal da cruz, mesmo sendo ateu a cada cena de trapalhada que um desses ícones fazia.

Só que filmes com astros são sempre uma baboseira para arrecadar dinheiro (ver The Turist, com Deep e Jolie). Vamos partir para um verdadeiro filme musical, uma superprodução baseada na Broadway. Vamos a grandes nomes do cinema musical no mundo.

É aí que eu entendo tudo. As histórias do filme, podem até ser legais, roteiros bem elaborados, uma produção genial. Mas o simples fato de, de repente em uma cena, o ator se levantar, começar a sapatear e cantar já me enjoa drasticamente. Não entendo o que mais me irrita, se é a pose, se é a cena inverossímil, se é a dramaticidade, ou se é a afinação.

Você já parou para imaginar que aquele cara super afinadinho que ganhou o Ídolos nunca gravou um cd e nunca fez sucesso? Esse meu ponto de vista, para um músico, pode ser uma blasfêmia, mas eu gosto de gente que desafina, que vai contra a corrente da técnica e faz sua própria musicalidade. Isso para caso apenas de cantores, tá? E o que me irrita nos musicais é aquela música perfeitamente cantada, afinadinha, com uma emoção feita por um ator. É muito cinema para ser música.

Resumindo, Glee é a mistura de tudo que não suporto em critério filme musical. Bonzinhos, penteadinhos e afinadinhos. Um nojo, simplesmente. E eles ainda por cima vêm e interrompem meu Simpsons, seriado extremamente politicamente incorreto que assisto na Fox, e cantam uma de suas regravações mal regravadas.

Conheci Glee através de recomendações e comentários. Mas vi o que era mesmo quando estava procurando versões de You Can’t Always Get What You Want dos Stones, música linda e me deparei com a versão que eles tinham feito. Não, aquela música não é pra ser cantada assim. Vi outros títulos, e a afinação corretíssima deles não era a música em questão. Cristo, o que eles faziam? Música é amor, a afinação deles é robô.

Uma música regravada por Glee equivale a um comentário do Felipe Neto, não agüento ver mais que 20 segundos. Mas vamos fazer jus a outros pontos que não citei ainda. O que falei sobre filme musical não se aplica a teatro musical. É diferente completamente, afinal, qualquer coisa que apareça do nada no teatro não faz sentido mesmo, por isso, uma música é sempre bom. Assisti My Fair Lady, peça da Broadway  no Teatro Alfa em 2007 e foi uma das coisas mais fantásticas que vi. Odeio dança em geral, por isso num filme onde as personagens dançam, eu já sinto a claustrofobia no meu sofá. E agora seguem-se filmes musicais que eu gosto:

- Filmes biográficos sobre artistas, afinal é não tem nada de inverossímil;
- Chicago, um dos únicos exemplos de musical irreal que gosto, até por não ser certinho;
- Garotas e Garotas (1955) único clássico musical que gosto, afinal, no mesmo filme ter Brando, Sinatra e Simmons, nem o fato de ser musical estraga;
- possivelmente tenha me esquecido de mais alguns, mas por hoje é só. Agradeço a paciêcia.

O melhor disco do ano

Foto: daniel-achedjian.blogspot.com

Sei que ainda estamos no mês de fevereiro, mas tenho plena certeza de que disco nenhum a ser lançado no resto do ano vai me tocar tanto quanto Quero ser Cool, álbum de estréia da desconhecidíssima banda carioca Les Pops.

Conheci Les Pops sapeando pelos canais da minha TV a cabo, quando pausei na Globo News e lá estavam eles no programa taciturno Estúdio I começando a tocar Aluguel em Abbey Road.

Gostei da música. Não sei do que mais gostei, se foi da letra, da voz do vocalista que se difere dos novos ícones musicais, que não agüento ouvir mais que vinte segundos, ou se foi da suave musicalidade do trio (Rodrigo Bittencourt – guitarra e voz, Daniel Lopes - voz e “guitarraxo” e Tiago Antunes – voz ukelelê). Talvez a mistura refinada dos três, que semelhantemente me fez eleger Efêmera, da para mim desconhecida na época Tulipa Ruiz o melhor disco de 2010.

Sobre a música em questão, a letra é fenomenal. Se quiser acompanhar a música vendo a capa do Abbey Road no Google imagens, ou como eu, na mão mesmo. A partir somente dessa música já me interessei e identifiquei pela banda. Ouvi ainda no programa Eu quero ser cool, faixa que dá o nome ao CD e já era o bastante para eu correr para o MySpace da banda conhecer mais músicas.

Resultado que todas são ótimas. Ao contrário do que diz o título do disco, Les Pops conseguem se cool, e com muito talento. Um CD que te prende por ter uma delícia de sonoridade em todas as faixas. Desde a viciante Esmalte até a cômica Camisa listrada ou a bela versão do Roberto e Erasmo Carlos de Amigo

Pronto, já virei fã. Resta agora buscar na praça esse CD para tê-lo e botar na prateleira como melhor disco de 2011 e esperar ansiosamente pelo sucesso e pelos novos discos da banda a surgir.

Foto: daniel-achedjian.blogspot.com

10 de fevereiro de 2011

Noel Rosa além da Vila Isabel

Foto: Biblioteca ERS
Desde domingo que estou tentando escrever algo excessivamente bom para homenagear o excessivamente bom homenageado que aqui constará. Mas resolvi que o artigo excessivamente bom sobre ele já foi escrito, e que se encontra neste link. Por isso, vou fazer uma visão mais pessoal sobre meu homenageado, o centenário Noel Rosa.

Conheci realmente Noel através do artigo que me referi. Artigo de um crítico de rock, ligado a cena undergrund e alternativa. Ora, era um ambiente demasiado estranho para se falar do maior poeta e sambista da Vila Isabel na Zona Norte do Rio. Por isso me interessou aprofundar meu conhecimento sobre esse cara, já que o que eu conhecia era o extremo básico dele (Com que roupa; Conversa de botequim; Jura; Taí e outras inclusas no Great Hits).

Foi a partir dessa crítica que conheci o verdadeiro poeta de quem se fala. O poeta que compôs preciosidades irônicas (Tipo zero; Seu Jacinto), obras que mistura sua cultura, suas más sortes no amor e seu humor ácido (Coração; Mentiras de Mulher; Positivismo), músicas que nem parecem que foram escritas há 70, 80 anos (Onde Está a Honestidade / Você, por exemplo) e músicas que ficaram para a história da música brasileira (Feitio de Oração; Pastorinhas; Feitiço da Vila; Gago Apaixonado).

Se já não fosse bizarro ter conhecido Noel através de um roqueiro, mais bizarro ainda foi ver as músicas do Noel interpretadas por um roqueiro. Domingo passado vi no Auditório do Ibirapuera um show histórico. Comemoração dos 100 anos de Noel Rosa, onde o titã Paulo Miklos se juntou inacreditavelmente com o grupo de samba Quinteto em Branco e Preto, de São Mateus, zona Leste de São Paulo. Para completar a trupe, a sonsa Mallu Magalhães e a atriz Carol Medeiros. Um show impensável, mas apreciável. Tanto é que seus 90 minutos, deixaram uma água na boca de assistir por mais horas. Foi incrível ver Miklos, que duas semanas antes vi em sua performance original nos Titãs se sair tão bem caindo no samba da Vila Isabel.

Noel Rosa é mais que samba, é mais que Vila Isabel. Até o mais ignorante dos metaleiros deveria tirar sua bandana para este cara. Um cara que começou a compor aos 19 anos, morreu aos 26 e nesse meio tempo fez mais de 300 músicas que ficaram para a história da música brasileira.

Um cara que fazia críticas sociais em suas músicas décadas antes da ditadura militar, um cara que, devido seus fracassos amorosos compôs letras divertidíssimas, um cara que fazia de um simples fato uma assombrosa letra poetizada, como em Com que roupa.

Boto-o entre os maiores poetas de nossa música sem pensar duas vezes e sempre recomendo a todos que comento sobre o assunto, independente do estilo que gosta: ouça Noel Rosa. Aliás, leia Noel Rosa.

5 de fevereiro de 2011

Põe na conta da Copa


- Prefeito, nossa cidade bateu mais um recorde de congestionamento essa semana, tudo devido às centenas de pontos de alagamento.
Kassab – Sim, nós estamos tomando as devidas providências para que nossa cidade esteja livre desses transtornos até a Copa.

- Governador, morreu mais de 700 pessoas com as chuvas, o que o governo do estado vai fazer em relação a esta tragédia?
Cabral – Vamos monitorar, equipar e trabalhar para que não haja mais tragédias principalmente na Copa e nas Olimpíadas.

- Ministro, o que o senhor tem a dizer sobre o apagão no Nordeste?
Lobão – Nosso sistema é o mais moderno do mundo e vamos lutar não ocorra mais imprevistos na Copa.

- Presidente, o que a senhora tem a dizer sobre a Copa?
Dilma – Até lá tudo vai estar sob controle.

Muito obrigado, Copa do mundo por existir e servir de alicerce para que se faça algo nesse país. Só fico me perguntando por que tem que existir a Copa para dar um empurrão nas coisas? Por que vão fazer obras faraônicas para amenizar enchentes e deslizamentos só para os turistas verem como o Brasil está se tornando uma potência e não com o intuito de evitar tragédias? Por que o controle do apagão num dia de jogo é mais importante do num dia normal em um hospital sem gerador?
Estamos dependendo da Copa do Mundo e das Olimpíadas para ganharmos algum avanço. E espero que com elas venha este tão sonhado avanço...

Segurem meu bebê, por favor!

Foto: Nicoli Catarine

Não sou idoso. Nem aleijado. Tampouco sou gestante. Mas tenho uma criança no meu colo. Não, não quero o teu lugar, não sou tamanho fominha. Mas você bem que poderia segurá-la pra mim, por favor, afinal, que é que tem demais levar meu violino.

“Músico só se fode” é uma das coisas que mais ouvi e concordo na vida. Mas provavelmente, o lugar em que o músico mais se fode é no ônibus. Seja o instrumento que for, desde um simples case (mala, caixa, estojo de instrumento) de trompete até uma capa de um enorme contrabaixo.

O primeiro mal momento é na entrada do ônibus, que dependendo do tamanho do instrumento (violoncelo, contrabaixo, trombone) tem que suplicar ao motorista para abrir a porta de trás para entrar e, para outros casos, tem que segurar firmemente uma mão no case, outra no balaústre do ônibus que dá a arrancada.

O pior momento, talvez seja na catraca, que você é obrigado a fazer um malabarismo bizarro na arte de passar o bilhete no contador, levantar o case, girar a roleta e garantir o equilíbrio. Para os que entraram por trás do ônibus, passar o bilhete e rodar a catraca, antes que o cobrador se desespere e comece a expulsar o pobre músico.

Passado o pior, creio que qualquer músico gostaria de um pouco de paz, sentar-se feliz com seu instrumento junto ao corpo. Mas isso é difícil numa megacidade como São Paulo. Nos resta apenas um pingo de generosidade de alguém sentado para segurar nosso instrumento e nos permitir viajar com um mínimo de “conforto” a mais. Mas não, ignoram nossos instrumentos, ignoram nosso esforço e sofrimento e não se oferecem a carregar nossos instrumentos. Os mesmos gentis que se oferecem a levar uma bolsa de uma mulher bonita que, mesmo não estando pesada, se oferece a levar para marcar pontos, rejeitam os pobres músicos e musicistas.

Cito o ônibus apenas porque é mais comum, mas no trem e metrô é o mesmo sofrimento. Principalmente na entrada do vagão, que ou te atropelam, ou levam teu case no empurra-empurra. É muito raro um dom de gentileza ou educação para nos ajudar, tanto é que quando recebo uma boa atitude, agradeço com mais de cinco obrigados a pessoa generosa.

Peço humildemente a todos vocês que estão lendo... por favor, se verem alguém com instrumento nas costas ou no punho, faça uma caridade. A sociedade musical e artística agradece.

É nessas situações que reforço meu ser: ainda bem que eu toco violino e não contra baixo.

4 de fevereiro de 2011

White Stripes e o fim do sonho dos anos 2000

Foto: White Stripes - site oficial

O que ouvir numa década que começa com o Bonde do Tigrão e se encerra com o Meteoro da Paixão? Em meu caso, a solução eficiente foi ouvir White Stripes.

Conheci a banda através de um DVD que meu irmão ganhou pela finada ’89,1: A Rádio Rock’. E passei a gostar da banda do mesmo jeito que gostei de Nirvana: através de Leadbelly. A ante-penúltima música do DVD Under Blackpool Lights de 2004, é Goin’ Back to Memphis, clássicão country da Memphis Jug Band, liderada pelo meu ídolo trash country, Leadbelly.

Esta regravação me chamou a atenção e logo passei a apreciar a banda, com todos seus hits, como Conquest, Seven Nation Arm, Dead Leaves and the Dirty Ground, Icky Thump e I Just Don’t Kwon What to do with Myself.

White Stripes é a banda que eu mais gostei dos anos 2000. Deve ser até mesmo a única, pois o resto de coisas que vim gostar da minha época, só passei a gostar depois que a década já tinha acabado.


O que mais me chama a atenção nessa banda é o fato de como Jack White é um ótimo músico, empresário, produtor, compositor e, sua parceira Meg White é ruim. Gosto também do jeito com que ex-marido e ex-mulher se tratam, se apresentando ao mundo como irmãos. Gosto do estilo lo-fi deles, dos shows memoráveis, como em Manaus, que saíram do Teatro Amazonas para saudar os 14 mil fãs que ficaram do lado de fora e obviamente, de suas músicas.

Fico triste com o fim da banda por ser o fim da única banda que gostei nos anos 2000. É mais um fim de uma década, mais uma vez o sonho acabou. Fico feliz, ao menor pelo fato de Jack ter uma aptidão pra negócios que me leva a crer que o fim da dupla é mero marketing, para venderem muito material inédito que ainda vai sair por aí.

O que me resta para 2011 é encontrar algum som que eu acompanho nessa segunda década do século XXI. Acompanhar os outros trabalhos de Jack, como no Dead Weather ou no Raconteurs, senão ser obrigado a viver a década do 'Tchubirabiron', de 'Loca, Loca, Loca'  e outros hits infelizes de verão...

A obra e a obra de Maria Schneider

Foto: Paris Filmes
Imagina você sendo um ator ou uma atriz que com vinte anos de idade gravou um filme pra lá de polêmico que estourou no mundo todo e passar o resto da sua vida se lamentando por ter participado do filme. Foi simplesmente isso que aconteceu com Maria Schneider que morreu ontem aos 58 anos. 38 anos depois de ficar mundialmente conhecida por Último Tango em Paris.

Assisti Último Tango em dezembro passado, numa sessão de madrugada no TCM, já sabendo por cima o que iria ver. Não escondo meu despontamento em relação ao ritmo do filme, que achei que seria diferente antes de assistir. Mas não escondo também a estupefação que esta obra me causou. Quando se trata de uma preciosidade do cinema, não tem desculpa de ritmo.

O filme é muito mais do que a famosa cena que tanto se diz. Mas cena é muito mais do que cinema propriamente dito. Um fato divisor de águas na história do cinema, que recebe diferentes aceitações, que foi na época uma polêmica sem tamanho e que é hoje e sempre será um mito cinematográfico, ao qual a própria atriz se arrepende de ter feito.

Maria Schneider tinha menos de 20 anos quando começou a filmar Last Tango in Paris, contracenando com o não menos gênio Marlon Brando que na época tinha 48 anos. Um dos casais mais polêmicos da história, uma sacada genial do diretor Bernardo Bertolucci. A violência no amor e sexo do casal de 28 anos de diferença era baseada nas fantasias do próprio diretor.

Brando é Paul, um viúvo americano que se encontra em Paris. Schneider é Jeannie, uma jovem parisiense prestes a se casar. Eles se conhecem em um apartamento posto para aluguel onde o dois tem interesse de alugar. Sem se conhecerem começam a ter relações sexuais no lugar. Como um espectador do Big Brother, graças a maestria de Bertolucci.

A famosa cena que citei no começo, e que a atriz foi lembrada até a sua morte, é onde Paul a sodomiza usando um tablete de manteiga. Uma cena que para hoje pode ser tida como comum, na época fora um escândalo. Um tom sacrílego à sociedade acostumada aos belos contos de amor do cinema, uma narrativa crua de sentimento entre um pervertido de 50 anos e uma garotinha de 20 ao som do melancólico jazz de Gato Barbieri e da fotografia iluminada de Vittorio Stotaro.

Last Tango foi proibido em inúmeros países, inclusive no Brasil, época em que vigorava o AI-5. Rodado na Europa em 1972, só pôde vir para cá em 1979. Num tempo em que não existia DVD nem Torrent, esse filme aguçou a curiosidade de todos ao ver as cenas de sexo.

Marie Schneider viveu às custas da fama deste filme. Seu único papel de reconhecimento após Last Tango foi em outro clássico, Profissão Repórter, de Michelangelo Antonioni contracenando com outro monstro da sétima arte, Jack Nicholson. Pode nem ter sido tão boa atriz, mas fez dois papéis que entraram para a história.

Mas viveu a sombra de Last Tango. Posteriormente disse que suas lágrimas durante a famosa cena de sexo anal eram verdadeiras, que se sentia estuprada não somente por Brando, mas como por Bertolucci também. Sempre sob os holofotes de Last Tango, Schneider viveu sob álcool e drogas, fracassou em sua carreira de atriz e morreu ontem, aos 58 anos, depois de anos de enfermidade.

Possa ser até que Maria não faça falta como atriz no cinema, mas sempre fará, ao se tratar da mulher de O Último Tango em Paris.

3 de fevereiro de 2011

Uma lista convincente


Saiu semana passada no The New York Times, uma lista definitiva contendo os 10 maiores compositores da história da música. Como a Veja no Brasil, o New York Times não tem lá influência para brincar de fazer listas culturais. Eu discordo de alguns nomes citados na lista e vou comentar o porquê neste post que tende a ser imenso. Por isso já digo que, se não gosta de música clássica nem tem curiosidade sobre que penso dela, vá para o próximo post, sobre Ronnie Von que deve estar mais interessante para você.
Segue-se a lista do NYT:

1. Johann Sebastian Bach (1685-1750),
2. Ludwig van Beethoven (1770-1827),
3. Wolfgang Amadeus Mozart (1756 — 91).
4. Franz Peter Schubert (1797-1828).
5. Claude Achille Debussy (1862 — 1918),
6. Igor Stravinsky (1882 — 1971),
7. Johannes Brahms (1833 — 97).
8. Giuseppe Verdi (1813 — 1901),
9. Richard Wagner (1813 — 83),
10. Bela Bartok (1881 — 1945).

Analisemos então.

Bach. Em uma lista pessoal de “greats erudite hits” eu não botaria muita coisa além da Tocatta e Fuga e da Suíte para Cello. Mas confesso que não conheço a obra de Bach bem para avaliá-lo a meu gosto. E por isso não quero ser injusto com o cara que escreveu mais obras em sua vida do que qualquer outro compositor, que revolucionou a música ocidental, vou deixá-lo em primeiro, afinal, se não fosse por ele não existiriam os demais da lista.

Beethoven em segundo? Sim, por que não? Talvez porque exista Mozart. Ludovico e Wolf são pra mim como Beatles e Rolling Stones, nunca me decido quem é o melhor, vai de momento. Atualmente to gostando mais de Beethoven, mas não posso ainda dizer que é melhor que Amadeus. Ludwig tem talvez a biografia mais triste da música. Seu pai alcoólatra, invejoso com o sucesso do jovem Wolfgang, começou a obrigar seu filho a estudar em meio a pauladas e tapas no ouvido, com a ambição dele se tornar o maior do mundo. Criou um gênio. Me lembra até – que heresia citar isso de exemplo – Joe Jackson e seu filho Michael. Esqueçam essa citação, é muita humilhação pra Ludovico... Mozart não precisou levar tapas na orelha até ficar surdo para se tornar genial. Começou cedo e, infelizmente terminou cedo. Com 35 anos já tinha composto quase tanto como Bach.
Não que eu seja insensível, nem que me esqueça da Nona Sinfonia, música que ouço desde a lotação até assistindo um filme de Kubrick, mas nesse caso eu voto em Mozart para segundo colocado e Beethoven em terceiro.

Tudo bem, Schubert estar na lista, ainda que eu não conheço sua obra e não boto na minha lista, mas em quarto lugar? E olhando para o resto da lista, me pergunto onde está o Frederico? Se esqueceram do maior compositor de obras para piano de todos os tempos, ou o boicotaram mesmo?Ele não poderia estar na lista, deveria. Preciosismo, virtuosismo, entre outras tantos adjetivos se encaixam à obra de Fredéric Chopin (1810-1849). Dos seus concertos para piano até o Noturno, ou a Balada, Chopin comove quem o ouve, é um dos “the bests” que carrego em meu MP4 sempre e sempre que ouço, encanta. Chopin não poderia estar nesta lista abaixo da quarta posição, por isso faço a justiça agora aqui.

Debussy? Não entendi.Compositores vivos no século XX já basta Stravinsky que comento daqui a pouco. Mas a seleção de Debussy confesso que não entendi. Posso muito bem colocar em seu lugar Piotr Il’yich Tchaikovsky (1840-1893). Tchaik, mestre do balé, homem que escreveu o maravilhoso Concerto para Violino em menos de um mês e suas últimas três sinfonias espetaculares não pode ser posto de fora desta listagem.  Tchaikovsky viveu 53 anos compondo rapidamente suas obras e tenho certeza que não exista alguém que nunca tenha ouvido pelo menos um trecho do Lago dos Cisnes nem do Quebra nozes. Sem mais, Tchaikovsky em quinto.

Stravinsky me surpreende e me alegra estar na listagem. É o mais recente da lista. Representante do século XX, conhecido como maldito, por suas sinistras composições, que você deve conhecer através de algum filme de terror. Chega dar agonia você ouvir a Dança dos Adolescentes, trecho da obra máxima de Stravinsky, A Sagração da Primavera sabendo o contexto que a ora musical quer dizer. Igor é um mago na música e deixo-o na lista, mas em posição invertida com o nono lugar,senhor Wagner, o mais político do mundo musical. A Cavalgada das Valquírias, sua obra máxima quase sempre é tema de filme de guerra, imortalizada por Apocalypse Now, do Coppola. Richard, reza a lenda, era extremamente racista. Suas obras, tanto musicais quanto literárias iriam influenciar seriamente um jovem artista com futuro promissor na política do século XX, Adolf Hitler. Hitler, assim como o alto escalão nazista apreciava Wagner como um deus. Não é a toa que muitas carnificinas de judeus foram ao som tenebroso das obras de Wagner. É por sua vasta obra que incluí a mais longa ópera já escrita, com mais de 5 horas de duração, que boto Wagner em sexto colocado e abaixo Stravinsky a nono.

Brahms em sétimo não me agrada.Tira ele daí, bote Antonio Vivaldi (1678 – 1741). Essa sétima posição me deixou pensando muito. Pensei em botar, no lugar de Brams, Gustav Mahler, mas não. Vou deixar fora da lista os mestres da dinâmica e puxar sardinha pro meu lado. Afinal, alguém que compõe as obras mais famosas para violino que são As Quatro Estações e os demais concertos, te que figurar numa lista pessoal de violinista Afinal, nem é tão mal feita minha lista assim, pois Vivaldi tem de estar com certeza, fazendo companhia a Bach no período barroco.

Verdi? Poderia avacalhar nesta oitava posição, botar Villa Lobos como forma de patriotismo, Ravel, como forma de amadorismo por Bolero ser minha obra erudita predileta, mas não. Já fiz desvio de idéias botando com Vivaldi a meu favor, não vou mexer em Verdi, afinal é o maior representante da ópera italiana. Pensei em botar Puccini, mas não, deixa Verdi aí. Afinal, ele transpassou quase a obra de Shakespeare completa para os palcos em forma de ópera, atuou em grande importância no mundo da ópera no final do século XIX, sendo citado em inúmeras obras, inclusive em algumas de Machado de Assis. Quer saber, deixa Verdi aí.

Em nono está Stravinsky, certo. Vamos a décimo lugar. A primeira pergunta que fiz ao ver o nome de Bela Bartok na lista foi: “quem é Bela Bartok?” Como deixá-lo na inha lista se nem o conheço? Afinal, como botaram mais um componente do século XX na lista? Saia já daí. Agora eu poderia apelar, mas não vou não. Vou popularizar. Em décimo lugar na minha listagem, vai Georges Bizet (1938 – 1907). O compositor da ópera mais tocada no mundo, inclusive pela minha orquestra. Carmen é única. Os Toreadores, Habanera, Marcha dos Contrabandistas, entre outros trechos da ópera completa, extrapolam o limite do erudito chegando ao popular. Bizet é conhecido pelas massas, mesmo não sendo reconhecido. Mas Bizet não viveu apenas de Carmen, compôs muito mais em sua vida, por isso não pode deixar de estar aqui, mesmo que seja na última colocação. Afinal, ele está na frente de um décimo primeiro ou décimo segundo colocado.

Dito isto, minha lista assim fica:
1. Johann Sebastian Bach
2. Wolfgang Amadeus Mozart
3. Ludwig van Beethoven
4. Fredéric Chopin
5. Piotr Il’yich Tchaikovsky
6. Richerd Wagner
7. Antonio Vivaldi
8. Giuseppe Verdi
9. Igor Stravinsky
10. Georges Bizet

Em minha singela opinião, está mais convincente que a do NYT, mas se você não for a favor, fazer o que? Não tenho mesmo tal influencia do The New York Times...

1 de fevereiro de 2011

A Balada Cibernética de Ronnie Von

Imagem: TV Gazeta

Quem vê este simpático senhor apresentando toda noite na Gazeta seu programa grã-fino com um sorrisão aberto, chamando os convidados de bonitinho e bonitinha, não imagina a qualidade sonora que, quando mais jovem ele extraía.

Já ouviu a música de fundo da Praça é Nossa? Já ouviu tua mãe cantar em algum momento algo como “a rosa vermelha, é do bem querer...”? Já ouviu alguma música dos Beatles, como Girl, ou It’s Only Love cantada em português? Então você provavelmente já ouviu algo de Ronnie Von.


Ronnie surgiu na mídia como cantor através da Jovem Guarda. Com seu cabelo penteado e olhos azuis, logo foi tachado de príncipe (até mesmo porque a Jovem Guarda já tinha um rei: Roberto Carlos), ganhou programa na TV e fãs que o idolatravam. Percebemos nas letras, as metáforas que ele faz de mulheres com flor, como ele ama brinquedos, super heróis  e crianças.


Mas Ronnie Von estava acima da Jovem Guarda. Acima de seu tempo. Veja por exemplo nas fotos que seguem, como ele, em 1967 já usava pum cabelo que viria a ser modinha nos anos 2000:

Imagens: Last FM
Influenciado pelos Beatles em todas as fases, Ronnie gostava tanto do popular quanto do experimental. Um dos motivos de levar Os Mutantes, ainda um embrião do que seria a melhor banda brasileira, para seu programa televisivo. Por esse gosto tanto do pop quanto do psicodélico, Ronnie Von evoluiu em sua música. Uma carreira irregulçar, indefinida, mas fantástica.


Percebemos nas letras, as metáforas que ele faz de mulheres com flor, como ele ama brinquedos, super heróis  e crianças.


Em 1969, transgredindo os demais “Jovens de Guarda”, gravou teu LP Ronnie Von e entrou profundamente no Tropicalismo. Com arranjos do maestro Duprat e acompanhamentos dos Mutantes este é meu álbum predileto que ouvi até agora da obra de Ronnie. Lembra Caetano Veloso e Os Mutantes, álbuns do mesmo ano, com arranjos do mesmo mestre.


Depois desta obra tropicalista, Ronnie gravou três dos discos mais psicodélicos da música brasileira: A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nunca Mais, de 1969, A Máquina Voadora, de 1970 e Ronnie Von, de 1972.
Ainda não degustei toda a obra do simpático senhor, mas o que eu tenho já virou minha viciante trilha sonora nas longas viagens de lotação que faço diariamente.


Sei que depois desta fase Sgt. Peppers brasileiro, Ronnie Von se dedicou a família e a seus trabalhos na TV. Seu último álbum é de 1996, ao qual eu não ouvi. Como não sei como anda atualmente musicalmente, não sei se quero ou não que ele grave outro disco. Mas por enquanto aproveito as noits na Gazeta, com o Sr. Sorriso Ronnie Von apresentando marcas de colchões e novas e boas coisas do cenário musical brasileiro.

A Era dos Abestados

Imagens: G1 (reprodução)
Não que eu seja fã número 1 de Legião Urbana. De tantas vezes que ouvi sem querer graças a meu irmão, enjoei drasticamente, a voz de Renato Russo me cansa facilmente. Mas não nego que ele seja um dos maiores letristas – se não o maior - que o rock nacional já teve. E hoje, acordei com vontade de ouvir Perfeição, do álbum O Descobrimento do Brasil, de 1993.

Quem imaginaria, na época da composição desta música, que o verso “Vamos celebrar o preconceito / O voto dos analfabetos” ficaria outrora desatualizado. Se já não chegasse o ridículo primeiro parágrafo do artigo número catorze da constituição nacional, que o voto é facultativo para os analfabetos, que há 18 anos já chocava Renato Russo, que dirá dos dias de hoje, em que analfabetos não apenas votam, mas se elegem.

Neste primeiro de fevereiro de 2011 entra em vigor uma nova página na história política do Brasil, a “Era Abestada”. Acarretada pelo palhaço semi analfabeto Tiririca que, mesmo não sabendo o que faz um deputado federal, ganhou mais de 1 milhão e 300 mil votos, esta nova trupe que enfeita o congresso e encanta os eleitores começaram a trabalhar hoje.


É claro, que se têm olho gordo neste emprego: cruza os braços durante quatro anos, não fazendo nada, ganhando um humilde salário de 26 mil reais mensais, fora gorjetas de quatro dígitos, quando se trata de moradia, plano de saúde, previdência, recesso, férias, cartões corporativos, passagens aéreas, etc. etc., além de poder abocanhar umas verbas com comissão de imposto, sobra de campanha, super faturamento, etc. etc. Quem não gostaria?


E em uma sacada quase genial, eles se meteram na política. O ex jogador Romário e o ex BBB Jean Willis pelo Rio de Janeiro, o ex boxista Acelino Popó Freitas pela Bahia e o eterno palhaço Tiririca por São Paulo. Só que a sacada mais genial ainda foi dos partidos que os botaram lá. Cada um, com esses campeões de urna, ganharam algumas cadeirinhas importantes no plenário. Exemplo disso o PR que com uma parcela de votos do Tiririca, botou lá dois mensaleiros, Waldemar da Costa neto e José Genoino (PR fez coligação com o PT).


Mas agora que o circo está montado, só nos resta torcer que os abestados façam um bom mandato. Não creio que Popó e Tiririca, por exemplo, vindo da humildade de onde vieram, se metam pelo mau caminho. Acho que o congresso, cuja maioria é governista, está com uma cara diferente, com muito sangue novo, o que é importante, fazer uma reforma política nos dias de hoje.


Espero sinceramente que os analfabetos, votando em seus iguais possam mudar a história, finalmente, dando a este nosso Brasil alguma perfeição.